Quinta-feira, 25 Abril

«Pine Ridge» por João Miranda

A ocupação dos Estados Unidos pelos europeus é uma daquelas histórias que já foi recontada tantas vezes que, por vezes, chegamos a acreditar que é algo do passado, com as várias culturas que os habitavam reduzidos ao estatuto de “índio” ou “índio-americano”. Essa mesma redução foi também efectuada sobre o espaço que teriam para viver, sob a forma de Reservas Territoriais. Pine Ridge é sobre uma dessas reservas. Só que, para além da redução das representações mediáticas e do espaço vital, também houve um decréscimo de oportunidades económicas, quer por causa das duas limitações referidas, que por causa da falta de investimento público e privado. Assim, o filme é um registo de uma comunidade pobre norte-americana, com o pormenor de que as pessoas que mostra são “índios”, com todos os elementos já conhecidos: abuso de álcool e drogas, crime, gangs, abuso de crianças etc.

A obra segue, normalmente sem as interpelar, várias pessoas, numa estrutura episódica que nem sempre nos ajuda a compreender o contexto e a vida delas, usando uma linguagem abreviada, apoiada sobre vários elementos que fazem parte das imagens mediáticas que já conhecemos sobre etnias e contextos sociais. Não há aqui uma verdadeira surpresa no que é mostrado, nem qualquer posição política abertamente assumida (o que não quer dizer que o filme não o seja, já que só o facto de mostrar o pode ser).

Se há algo que caracteriza o filme é o seu tom poético, com a música e a imagem a construirem um ambiente que, ainda que a imagem não se negue a mostrar toda a pobreza, estetiza tudo. E isso é um problema. Há não só uma posição voyeurista no olhar da câmera, mas a sua estetização convida a objectivar e contemplar a pobreza, tornando este um filme que contribui mais para a alienação do espectador e da confirmação de estereótipos do que para a sua negação. A falta de informação contribui também para que, mesmo que o que é mostrado fosse revelador, não se pudesse agir sobre isso.

O Melhor: A Imagem.
O Pior: A estetização da pobreza; a falta de informação.


João Miranda

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