Sexta-feira, 29 Março

«Big Hero 6» (Big Hero 6 – Os Novos Heróis) por Paulo Portugal

Big Hero 6 é o novo prodígio da Disney e foi a escolha acertada para a abertura do Festival de Tóquio, onde foi exibido em estreia mundial. Aqui fica um imediato piscar de olhos ao seu público alvo, ao mesmo tempo que alimenta o ensejo de se aproximar às receitas do mega blockbuster Frozen. Ainda que essa tarefa possa ser hercúlea, dado o lado fenomenal desse hit da Disney, a verdade é que a empresa do Rato Mickey fez um esforço para oferecer algo da mesma estatura ao adaptar esta personagem pouco conhecida do universo da Marvel Comics, desenvolvida pela dupla Don Hall (Winnie the Pooh) e Chris Williams (Bolt).

Na verdade, convence-nos a história de Baymax, o tal robô insuflável com uma missão de cuidados médicos imediatos do corpo e da mente. Ele assume-se como o companheiro inseparável de Hiro Hamada, o geek de catorze anos que evolui numa alucinante aventura em San Fransokyo, representando um deslumbrante mix entre versões habilmente renderizadas da cidade californiana e a capital nipónica. Já agora, diga-se, o início do filme em nada fica atrás do gabarito visual de Frozen. Bem andou a equipa de guionistas que fundiu o universo da animação manga japonesa com a tradição da Marvel.

No entanto, também é verdade que Big Hero 6 resulta num certo mix bag. É que após uma primeira parte absolutamente deslumbrante, a fita começa a ficar sem fôlego assim que os guionistas optaram por assumir indesejáveis lugares comuns narrativos. O resultado assemelha-se ao que sucede com o próprio Baymax assim que começa a ficar sem bateria: perde ar, vitalidade e energia. Em todo o caso ficam seguros alguns ótimos conceitos, como a mensagem positiva do poder do abraço e do empenho pessoal, afinal de contas elementos suficientes para que o hit esteja à altura dos créditos da Disney.

Seja como for, o melhor é habituarem-se a esta equipa de jovens cromos cibernéticos empenhada em lutar contra o crime numa metrópolis decorada por uma réplica da Golden Gate, ilha de Alcatraz, sem esquecer pagodes e sinuosas artérias erguidas em vias superiores que dão a imagem de marca à capital do Japão. É aí que Hiro depressa passa de um wizkid, proprietário de um inocente robô que vence adversários mais poderosos numa versão micro de Puro Aço, o pai de uma nova ferramenta de microships cibernéticos capazes de construir estruturas baseadas em estímulos cerebrais como se fossem milhares de peças maleáveis da Lego.

Isto até a nova invenção ser apropriada por uma mente diabólica numa ação violenta onde Tadashi, o irmão de Hiro, perde a vida. Destinado a vingar o irmão, Hiro vira-se para o balofo Baymax, devidamente acompanhado pela equipa dos colegas da escola de nerds, Wasabi, GoGo, Honey Lemon e Fred, um grupo destinado acrescentar ao parque atual mais uma nova equipa de super-heróis.

Como se imagina, nesta altura o filme é forçado e evoluir para um endiabrado território de sequências de ação megalómana em que a utilização da nova invenção dos microships nos trará à memória o uso que o líquido metálico negro tem em Spider-Man 3. Apesar da identidade do vilão nunca parecer uma verdadeira incógnita, eis que os guionistas servem-se de mais um twist narrativo para alimentar a surpresa.

Nem vale a pena sermos ingénuos, pois facilmente percebemos como as boas ideias seguem o caminho do entretenimento sem abraçar a inevitável componente mercantilista. Felizmente, nessa eventualidade resta-nos o delicioso abraço de Baymax.

O melhor: O assombroso set design de San Fransokyo adequa-se à metade arrebatadora do filme.
O pior: O desnecessário repisar de clichés desbarata a segunda parte do filme.


Paulo Portugal
(Crítica originalmente escrita em outubro de 2014)

Notícias