Sexta-feira, 19 Abril

«Né Quelque Part» (De Qualquer Lugar) por Roni Nunes

Filme que parte de um ângulo diverso do de muitas produções que retratam as comunidades árabes a viver em Paris. O seu protagonista descendente de argelinos, Farid Hadji (Tewfik Jallab), nem é uma vítima social nem um rebelde. Antes disto, ele tem uma vida integrada, estuda Direito e tem uma namorada francesa. A sua vida estável vira de cabeça para baixo, no entanto, quando ele tem que empreender uma viagem até os confins da Argélia para defender a propriedade ameaçada do pai.

O realizador Mohamed Hamidi parte de uma tradicional storytelling para sugerir uma inversão de papéis: e se, subitamente, um descendente de árabes bem estabelecidos tivesse que passar para “o lado de lá”, juntando-se aos milhares de africanos que sonham arranjar um visto francês e que, de tempos em tempos, arriscam-se na travessia do Mediterrâneo? O que surge pela frente é uma daquelas viagens de descoberta da identidade, onde uma existência tranquila é abalada nos seus alicerces, confrontada com dramas diversos e marcada por um choque cultural.

De Qualquer Lugar é um drama com elementos de comédia eficiente, bem produzido e filmado, com bons atores (incluindo um Jamal Debbouze divertido e menos caricatural do que nos pastelões nos quais costuma entrar) e boa fotografia. Não sairá daqui, certamente, algo de transcendente, para além do retrato dos argelinos – paradoxalmente tão alegres e contentes na mesma medida em que sonham com desaparecer do seu país – não ir muito longe do lugar-comum. Mas é uma boa história bem contada.

O melhor: é uma boa história bem contada
O pior: certos estereótipos etnocêntricos 


Roni Nunes
(Crítica originalmente escrita em outubro de 2014) 

Notícias