Sexta-feira, 19 Abril

«A Lã e a Neve» por João Miranda

Madalena Victorino é uma coreógrafa que gosta de trabalhar vários temas de forma nem sempre convencional. Em A Lã e a Neve, João Vladimiro documenta o processo de criação do espetáculo com o mesmo nome, feito em 2012. Evitando a simples implementação de um plano definido pela coreógrafa, o processo criativo foi feito de forma conjunta, definindo-se pelos movimentos dos dançarinos e as suas interações uns com os outros, seguindo conceitos que esta lhes propôs.

Como se pode imaginar, uma tal forma de criar, tão livre, dá origem a dúvidas e tensões, tanto do lado dos participantes na obra, como do lado dos espectadores. A coragem dos bailarinos de experimentarem e de arriscarem o ridículo é algo quase tão maravilhoso de se ver como os seus movimentos. Mas, de fora, pode correr-se o risco de apenas reconhecer o ridículo, acentuado pela natureza fragmentária do processo de criação e da estrutura do filme, fazendo com que algumas pessoas tenham alguma dificuldade em ligar-se ao mesmo. Ainda assim, há algo na fisicalidade e no investimento do projeto que nos consegue manter atentos, a tentar compreender como se irá tudo juntar e resultar no final.

Mais do que um mero registo, o realizador tenta também experimentar com a imagem, fazendo planos através de janelas ou usando reflexões que conseguem abstrair a imagem e criar um lirismo próprio. O movimento da câmera acaba muitas vezes por se envolver com o dos dançarinos e levar-nos para o meio da ação, num bailado de pessoas e imagens estonteante.

Se este filme não é tão experimental como Lacrau e se se pode mesmo afirmar que é mais convencional, não se pode dizer que perca com isso. A contenção temporal e do espectáculo fornece a esta obra uma estrutura que Lacrau não tinha e que acabava por prejudicá-lo.

O Melhor: O processo criativo; alguns planos.
O Pior: A falta que, por vezes, um tripé faz.


João Miranda

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