Sexta-feira, 29 Março

«Rosie» por André Gonçalves

E depois do forte candidato a título mais sofrível do Festival (o argentino AB), um forte candidato ao título mais memorável do certame – e ainda bem que está na competição para longas metragens, digo eu.

A Suiça tem uma filmografia “queer” que poderiamos chamar de discreta face a outras (Argentina, por exemplo; “AB” é uma excepção à regra) não fosse esta palavra traiçoeira neste universo. Mesmo assim, já foi alvo de atenção por parte de uma edição passada deste mesmo festival, saliente-se. E em Rosie, de Marcel Gisler, temos uma prova definitiva que temos aqui filme que, com alguma motivação por parte das distribuidoras, poderia passar “fora do circuito”.

A Rosie do título é uma personagem apaixonante em todo o seu prisma, uma alcoólica armariada já com uma certa idade que sofre um acidente que obriga os seus dois filhos a vigiarem-na com mais atenção. Um dos filhos é um escritor gay já nos 40s (Lorenz), o co-protagonista desta história que traz mais panos escondidos na manga e que é simplesmente um deleite. Nasce de uma vontade de retratar aqui relações bastante complexas (entre mãe e filho, entre irmãos, entre “ficantes”…), fazendo lembrar a espaços “Philomena” por motivos alheios à história mas por este retrato/tratado absolutamente querido sobre a terceira idade sob uma protagonista “sui generis“, e fortemente apoiado nas suas interpretações (com destaque naturalíssimo para uma inesquecível Sibylle Brunner no papel de Rosie). Um claro triunfo, que esperemos que saia do São Jorge recompensado de alguma forma.


André Gonçalves

Notícias