Quarta-feira, 24 Abril

«Casanova Variations» (Variações de Casanova) por Paulo Portugal

 

Variações de Casanova ou as variações de John Malkovich? Desde logo, na abertura o ator americano convoca a necessidade de captar as diferentes variações da personagem, já que o iremos ver tanto como John Malkovich tal como Giacomo Casanova. A partir daí, entramos num caleidoscópio de imagens, de narrativas que vivem paredes meias entre a ficção e a realidade, o teatro e o cinema, naquela que parece ser a mais ambiciosa e conseguida produção de Paulo Branco, que aquí reconta os derradeiros anos do eterno romântico do século XVIII. Uma coisa é certa, Variações de Casanova é até agora o filme mais excitante apresentado em San Sebastián na secção de competição.

A ideia do projeto surgiu ao realizador vienense Michael Sturminger a partir da versão teatral que fez com Malkovich da biografia de Giacomo Casanova The Giacomo Variations, “e já aí superava as fronteiras do género“, conforme revela o realizador nas notas de produção. A peça, tal como grande parte do filme sobre a peça, decorre no Teatro de S. Carlos em Lisboa, mas logo invade a plateia, passa pelos bastidores, onde uma deslumbrada Maria João Bastos persegue John Malkovich e até lhe pergunta a inconfidência: “é verdade que dizem que é gay?“… É claro que diante tal mescla de fios narrativos, de suportes, personagens e figurantes, poderia perder-se o fio à meada. Mas não. Habilmente, Sturminger vai gerindo e tocando estes diferentes “instrumentos”, contanto também com algumas árias de Mozart e Lorenzo da Ponte.

Apesar de não ser alheio ao tema, percebe-se que Malkovich se entregou a uma interpretação verdadeiramente avassaladora, que não fica longe de Valmont de Ligações Perigosas. “Acredito que quando interpreto um papel, só me preocupo com a personagem que tenho diante de mim“, disse na conferência de imprensa. “Se é de um sedutor que se trata, então tento sê-lo“.

Variações de Casanova fará parte do cartaz do próximo Lisboa e Estoril Film Festival que decorre de 7 a 16 de Novembro, contando com uma homenagem ao ator, realizador e produtor.

O melhor: produção cuidada com o S. Carlos em pano de fundo a servir de recreio de sedução para um endiabrado Malkovich
O pior: a complexidade da trama poderá afastar um público mais mainstream


Paulo Portugal
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2014)

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