Terça-feira, 23 Abril

«Alleluia» por Hugo Gomes

Alleluia de Fabrice du Welz é a versão belga dos “The Honeymoon Killers”, um casal de assassinos que abalou os EUA entre os anos 1947 e 1949 e que deu origem a um filme em 1969, dirigido por Leonard Kastle. O realizador tenta injetar na já conhecida história de crimes passionais e de obsessão uma certa intensidade psicológica, principalmente na personagem interpretada por Lola Dueñas (umas das colaboradoras de Pedro Almodóvar), que se adequa na perfeição à desequilibrada, mas ao mesmo tempo frágil, Gloria. Em complemento a Gloria encontramos o mulherengo e de certa forma carismático Laurent Lucas como Michel, um homem que vive exclusivamente das mulheres que conquista e descarta. Ambos unem-se como alma gémeas, engendrando golpes passionais e burlas por via do talento de Michel, mas a obsessão de Gloria impede que o casal seja bem-sucedido nos seus planos.

Divido em quatro actos, intitulados com os nomes das respectivas vítimas do casal, Alleluia funciona como um thriller sufocante que emana essa sensação através dos planos demasiado fechados e os constantes close-ups das personagens. Du Welz imprime ainda as emoções das mesmas através de um jogo de cores que clarifica o seu íntimo. Usa também um “punhado” de devaneios artísticos que sublinham a loucura desta ardente paixão, que continua com o avançar dos créditos finais.

Alleluia é assim uma obra curiosa, mas marcada pelo revisitar dos lugares-comuns do género. É por isso que nos deparamos com algo longe do surpreendente, mas ao mesmo tempo revitalizador e estilisticamente interessante. Eis um filme guiado por um transe misteriosamente invocado (a violência é representada de forma delirante) e sujeitado à humilhação psicológica quase igual àquela de que os seus personagens são vítimas (tendo somente os excertos de African Queen de John Huston como comic relief de toda esta pesada relação passional). Assim, Alleluia de Fabrice du Welz é merecedor de uma espreitadela, porque, mesmo recontado a mesma história de sempre, consegue narrá-la sob uma perspectiva mais violenta que o habitual (e não falo somente de grafismo).

O melhor – O casal Lola Dueñas e Laurent Lucas.

O pior – “Meter ao barulho” forças de cariz sobrenatural.


Hugo Gomes

Notícias