Sexta-feira, 19 Abril

«Coherence» por Hugo Gomes

O maior trunfo de Coherence é encontrar coerência no absurdo, pelo menos é o que à partida grande parte dos espectadores irá julgar. A primeira obra de James Ward Byrkit foi concebida inicialmente como ideia a de concretizar um filme sem equipa técnica e argumento, tendo como set a sala de estar do próprio realizador. Contudo, o dito argumento surgiu de paraquedas a Byrkit (que também escreveu o filme), que fascinado pela raciocínio cientifico, decide então executar o guião para o grande ecrã, dando origem a uma complexa obra que desafia as próprias leis da industria cinematográfica do género.

Em Coherence não encontramos nenhuma distopia evidente, nem mesmo uma revisita aos lugares-comuns. Tudo se resume a um filme de baixo orçamento muito limitado em recursos e com atores sob o efeito do improviso, mas munidos por um trunfo: um argumento eficaz em conceber uma credível explicação ao sucedido – mesmo quando se trata de mexer em temas como física quântica, metafísica e outras teorias difíceis de engolir. Muitas dessas disciplinas soam como “chinês” para a maioria dos espectadores, mas tais são adaptadas de uma forma concebível e perceptível. É o conceito de Schrödinger (as diferentes realidades e possibilidades em convivência lado-a-lado) levado ao grande ecrã, em comunidade com a fantasia descrita por Byrkit.

Coherence é uma pequena surpresa no seu campo. Envolvente, astuto, quase sem falhas na sua conceção, com um elenco que consegue aperfeiçoar as suas respetivas personagens, com principal destaque para Emily Baldoni (uma atriz quase condenada a pequenos papéis televisivos), e atmosférico o suficiente para nos transportar para a sua realidade (um ponto a favor na música composta por Kristin Øhrn Dyrud). Ou seja, eis um exercício cientifico posto e transitável à prova.

Uma recomendação: para quem é aficionado por ficção cientifica inteligente, mas saturado do histerismo cinematográfico do costume, não pode perder este Coherence.

O melhor – um argumento astuto que tem a virtude de não cair no ridículo cinematográfico, nem sequer de retratar o espectador com acéfalo.
O pior – por ser de baixo orçamento e limitado em cenários poderá ser encarado como um filme amador.


Hugo Gomes

Notícias