Toda a gente tem uma paixão, mas por vezes é a vida que decide por nós”, proclama Salvatore Granata em especial consideração ao seu filho, um gesto contraditório aos incentivos que havia cometido no passado. Felizmente o filho, Rocco, não seguiu o conselho do pai nem sequer as suas pisadas profissionais. Como todo o jovem rebelde de espírito e fiel às suas convicções, aposta numa carreira musical. Com mais contras do que Prós, Rocco Granata lá conseguiu construir a carreira dos seus sonhos, em grande parte devido ao seu êxito acidental, o lado B do disco “Manuela”, a outra mulher, a canção “Marina”.

Sem grandes surpresas, Stijn Coninx (“Daens”), com produção dos irmãos Dardenne, dirige um biopic esquemático, intencional e demasiado apegado ao seu espírito como tributo, mas dentro do subgénero que teima em não procurar novos conceitos narrativos, “Marina” é caso merecedor de uma espreitadela. Aqui somos remetidos a um trabalho técnico, principalmente na fotografia de Lou Berghmans, que salienta a atmosfera do momento (nota-se a mudança brusca entre a Itália solarenga e a Bélgica cinzenta e melancólica), e a música de Michelino Bisceglia, cúmplice desse mesmo ato emocional.

E falando em emoção, o catalisador deste no filme “Marina” não é sequer o seu protagonista e o romance de cariz obrigatório neste tipo de produções, mas sim Luigi Lo Cascio, o ator que interpreta o referido Salvatore Granata, dispondo um trabalho rigoroso em compor uma personagem ditada por diversas dicotomias. Porém, é a sua causa que irá de certo aprofundar a narrativa e, sim, comover o espectador. Como seu pano de fundo, surge uma ingenuidade funcional enquanto crítica social, visando a condição do emigrante, o “alien” como a certa altura é apelidado, e, sob o signo dos estereótipos italianos, a pobreza como caminho direto para a integração ilícita e mafiosa, como pôde ser testemunhado num quase insignificante diálogo inicial entre crianças.