Sexta-feira, 19 Abril

«Bjork: Biophilia Live» por Paulo Portugal

Imagens de células misturadas com prodígios da natureza, sons electrónicos futuristas, uma iluminação surreal e figuras ondulantes num palco baixo rodeado por publico. No centro, uma criatura envergando um fato almofadado que parece reproduzir um corpo orgânico com uma enorme cabeleira afro e o rosto contornado em tons de azul saltita pelo meio de um grupo coral. Antes uma voz familiar estabelecera uma ponte entre música, tecnologia e o nosso mundo. Ele era Richard Attenborough, ela era Bjork. Entre ambos cresceu essa intimidade orgânica num cosmos de que motivou o disco, a digressão e agora o filme Bjork: Biophilia Live, assinado por Peter Strickland (Katalin Varga, Berberian Sound Studio) e Nick Fenton, na verdade um dos momentos altos da edição numero 49 do festival de Karlovy Vary.

Na verdade, depois da sessão ficamos quase com a sensação de ter participado nesta arrojada experiencia ‘new age’. Esta simbiose entre música, tecnologia e performance torna-se realidade, ainda que fique a ideia de que tal experiencia teria ganho outra dimensão se concretizada alguns anos antes. Ainda assim, um harmonioso elemento de comunhão sensorial e cénica, com o ritmo eloquente de Bjork. Motivos mais que suficientes para conferir ao filme uma aura de curiosidade que fara as delicias dos fãs. Como objeto fílmico, Bjork : Biophilia Live afirma-se como um competente registo.

Numa espécie de grito aos contrassensos da globalização sucedem-se temas que sugerem pistas – “im looking for answers” – e apontam o dedo a “generations of madness“; isto enquanto que a artista admite a cantar que tem “tectonic plates in my body” e “chunks of DNA“. Já dentro de um universo que parece recriado num planetário próximo de Avatar, reencontramo-nos com sons e ritmos mais familiares que dizem “we go to a hidden place“. No final, abandonamos este ultimo concerto em Londres com o som inebriante de uma enorme caixa de música.

Já sabíamos que Bjork era uma performer de perfil musical e estético perfeitamente desenhado. E se dúvidas subsistissem, Biophilia Live encarregar-se-ia de as dissipar neste registo fixado pela dupla de realizadores. Só é pena que o projeto já não mantenha a novidade que um tema desta natureza reivindicaria. Isso retira-lhe inevitavelmente parte da desejada frescura e aura de originalidade. Ao reduzir-se a um competente documento de um espetáculo musical, Bjork: Biophilia Live reduz-se um veículo cuja mensagem perdeu parte do seu gás…

O melhor: A dimensão sensorial das músicas de Biophilia
O pior: O prazo de validade ultrapassado da mensagem ‘new age’


Paulo Portugal 

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