Sábado, 20 Abril

«Foxcatcher» por Paulo Portugal

Apesar da curta filmografia, Bennett Miller nunca deixou dúvidas da sua perspicácia em criar e moldar os mais brilhantes retratos de personagens. A prova ficou nos quatro atores nomeados a Óscares – Philip Seymour Hoffman e Catherine Keener (Capote), Brad Pitt e Jonah Hill (Moneyball – Jogada de Risco). E estranharemos se, pelo menos, Steve Carell não estiver dentro da short list para os candidatos à próxima nomeação dos Óscares. E a culpa não será apenas da prótese do seu nariz…. Até porque haverá até mais candidatos a considerar: Mark Ruffalo e até Channing Tatum (provavelmente no seu melhor papel de sempre).

Uma vez mais, Miller dedica-se à adaptação de uma história verídica, uma vez mais sobre um drama desportivo. Um lado de estranheza e imprevisibilidade domina a sua narrativa – o caprichoso milionário John du Pont decide investir na criação de uma equipa de wrestling, destinada a representar os EUA nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Para o efeito, contrata o campeão olímpico Mark Shultz (um convincente e taciturno Tatum) e tenta ainda a dobradinha com o mais popular irmão Dave (Ruffalo), também responsável pela preparação física e motivação do irmão. Sem olhar a despesas e disponibilizando instalações state of the art para o treino.

Só que gradualmente se percebe que esta personagem nascida no berço de ouro de uma família aristocrata de fabricantes de armamento e com pedigree na caça à raposa com cavalos esconde um recalcamento obscuro com origem na educação da sua mãe austera (Vanessa Regrave num minúsculo e impressionante papel).

E será esse lado negro e funesto que gradualmente se instala e nos prende numa relação incómoda e absorvente. Carell revela enorme talento ao sair do seu habitual nicho de comédia para nos dar uma personalidade quase irreconhecível, insinuante e pegajosa nesta complexa relação a três que nos irá levar ao extremo.

Em todo o caso, o mérito terá sempre de ser repartido por Bennett Miller. É que Foxcatcher nunca seria o mesmo sem a sua habilidade para puxar com sabedoria os cordelinhos desta teia negra disfarçada de drama desportivo.

O melhor: A presença insinuante de um Steve Carell como nunca o vimos
O pior: À partida um filme sobre wrestling não garante o maior interesse, mas…


Paulo Portugal

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