Sexta-feira, 29 Março

«Maps To The Stars» (Mapas para as estrelas) por Paulo Portugal

David Cronenberg ausculta a pulsação de Hollywood numa sátira ácida sobre o caminho para o passeio da fama neste regresso a Cannes dois anos depois de Cosmopolis. Para o efeito faz desfilar um grupo de vedetas conhecidas, como Mia Wasikowska, Julianne Moore, John Cusack, Robert Pattinson, bem como Carrie Fisher, a fazer de… Carrie Fischer. Até o Hollywood sign foi convocado para o cartaz do filme. O resultado é uma trama de forte pendor televisivo, no fundo, a confirmar a queda do argumentista Bruce Wagner pelo formato da intriga no pequeno ecrã.

Percebe-se que o realizador canadiano tarda em encontrar o caminho certo para o seu grande filme. Aqui na procura de um público teen com fascínio pelos wannabies ambiciosos que regularmente desembarcam em LA com um projeto de guião com a sua única percepção do mundo – lembram-se de Naomi Watts no início de Mulholland Drive? Não é descabido o exemplo, até porque Maps também é visitado pelo insólito e sobrenatural. Pena é que o capital granjeado no início do filme, com as pinceladas de uma caricatura de Hollywood mais vista pelo universo de uma adolescência decadente que usa expressões como “menopausica“, bem como o lado “has been” das divas à procura de um “come back“, acabe por ser desbaratado com a evolução de uma intriga familiar que não aquece nem arrefece.

Para complicar a coisa, o casting revela-se cheio de tiros ao lado. Mia Wasikowska convence pouco como a adolescente que desembarca de autocarro em LA com uma mala de cartão à procura do sonho; Robert Pattinson tão pouco, como o fulano que a guia de limusina alugada; Julianne Moore salva-se, e é o melhor do filme, embora na caricatura de uma estrela decadente que fala com a nova assistente pessoal (Wasikowsa) enquanto goza um momento de alivio na sanita; Cusack mostra o desgaste da sua própria carreira como o massagista psicólogo; pelo meio, Evan Bird, um pirralho mimado que parece viver dentro da série Entourage. Enfim, e um desenlace que convive com fantasmas, assombrações e uma vingança ardente que fica algures entre a sitcom juvenil e o thriller familiar sobrenatural.

O melhor: O diálogo de Julianne Moore na sanita
O pior: perceber que Cronenberg deu mais um tiro ao lado

Paulo Portuga
(Crítica originalmente escrita em maio de 2014)l

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