Quinta-feira, 18 Abril

«Il Capitale Umano» (Capital Humano) por Roni Nunes

Crise financeira e bancarrota moral perpassam esse drama cáustico sobre a Itália contemporânea através do destino de duas famílias que se interligam através do atropelamento de um ciclista.

Uma delas representa a pequena burguesia através de Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), proprietário de uma pequena imobiliária, ganancioso e desejoso de fazer parte do círculo de Giovanni Bernaschi (Luigi Lo Cascio), rico homem de negócios que um dia o convida para jogar ténis (e entrar nos seus esquemas um tanto duvidosos). Há ainda espaço para as esposas – a fútil e nostálgica Carla Bernaschi (Valeria Bruna Tedeschi), a delicada assistente social Roberta Morelli (Valéria Golino) – e para os filhos – o instável menino rico Massimiliano (Guglielmo Pinelli) e a bela e determinada Serena (Matilde Gioli).

Neste fogo cruzado de personalidades e estatutos, o realizador Paolo Virzì, conhecido por diversas comédias bem-sucedidas, cria um drama incrivelmente tenso e de uma densidade espantosa. Utilizando os recursos do argumento não linear com grande mestria, ele divide a sua história em capítulos conforme o personagem em foco (num total de três). Com um ritmo intenso e um timing impecável, torna impossível que o espectador desvie os olhos do ecrã.

O resultado, numa mistura de A Fogueira das Vaidades (o livro) com Colisão (de Paul Haggis), é uma abordagem ágil e cortante sobre uma sociedade onde os escrúpulos contam muito pouco e onde as pessoas são como números nos cálculos matemáticos que as seguradoras fazem antes de uma indemnização – onde se contabiliza o chamado “capital humano”.


Roni Nunes
(Crítica originalmente publicada em abril de 2014)

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