Enea Gabino é um autista de Udine que, no universo da sua deficiência, goza de um estatuto privilegiado: tem uma mãe afetuosa, grandes amigos (Alex Nazzi e o próprio realizador, Carlo Zoratti, todos a fazerem de si próprio), um emprego numa fábrica, uma psicóloga e até atua numa peça teatral. Mas há algo fundamental que lhe falta: uma vida afetiva e sexual. Completamente obcecado pelos exemplares do sexo oposto, com os quais fantasia nas revistas, Enea acaba por arrastar os seus amigos por uma viagem pela Europa a fim de encontrar a mulher dos seus sonhos.
Docudrama que investe numa temática de grande risco, daquelas que só se abordam com uma grande convicção, pois as hipóteses de cair no ridículo são elevadas. Zoratti alcança a salvação graças aos esforços dos envolvidos e a um uso perfeito dos planos fechados, fundo desfocado e hábeis movimentos de câmara. Com isso, cria um falso road movie onde a grandeza da paisagem exterior nunca é relevante e o foco é a evolução das personagens.
Já na história este The Special Need perde pontos, pois as tantas o filme parece enredar-se em si próprio, caindo numa redundância circular que até bem fica simbolizada num dos seus recursos linguísticos favoritos – o de pôr o cenário a girar. De todas as formas, não deixa de ter um saldo positivo uma obra que claramente aventura-se para além dos territórios tradicionais, com um personagem central singular e às voltas com situações insólitas. Numa delas, os três amigos fazem uma visita a um local na Alemanha especializado em conceder experiências sexuais aos portadores de deficiência.
O Melhor: a boa técnica de Zoratti
O Pior: uma história demasiado simples e repetitiva
Roni Nunes
