Apesar do título, as cores são a grande ausência neste homónimo filme de Francisco Garcia, o retrato de uma juventude sem ambição nem dedicação às suas próprias vidas espelhado num Brasil marginalizado, longe dos lugares-comuns como as praias tropicais e as favelas ou os clichés sonoros como os ritmos de samba. O que vemos aqui é um Brasil diferente, negro, depressivo, onde o funk e o bossa nova dão lugar ao rock e à electrónica underground, tudo isto para nos remeter à geração descendente de Woodstock, desiludida perante as promessas do passado e cativas num “buraco” social e financeiro de difícil saída.

Entende-se desde cedo a mensagem que Garcia e o co-argumentista Gabriel Campos anseiam invocar, algo facilmente descrito nas “imagens-metáforas” ou na composição melancólica e derrotista das suas personagens. Porém, “Cores” arrasta-se de jeito naturalista e de inicio retardado para nos persuadir com o óbvio. É o tipo de obra que bem poderia ser reduzida ao formato de curta. Ao invés disso, é então enfraquecida por uma narrativa esticada e contemplativa e, para prejudicar uma eventual dinâmica de exposição, temos ao nosso dispor um leque de personagens vazias e sem objetivos definidos para que o espectador possa interessar-se em acompanhar.

Apesar de tudo, “Cores” é uma autêntica lição de cinema, um exercício que é executado sob uma linguagem perfeitamente decifrável, dotado de boa planificação e uma fotografia a preto-e-branco que cobiça e usufrui as luzes e sombras do ambiente em redor. Em termos técnicos, esta obra é invejável, mas não perderia se fosse mais contornada nas suas arestas.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
cores-por-hugo-gomesO Melhor - O trabalho técnico / O Pior - necessitava de mais dinâmica narrativa