O vencedor do Fantasporto 2014 é um filme que faz total justiça a esse estatuto – coisa que não se podia dizer dos vencedores dos últimos anos.
Uma família rica japonesa compra uma zombie para ser a sua emprega doméstica. O relacionamento com a sua zombie não é, no entanto, livre de problemas. A criança da família gosta de lhe tirar fotografias e dá-lhe particular atenção, fazendo ciúmes à sua mãe. No dia em que, fruto de um acidente, o miúdo morre não existe outra solução, ele é convertido num zombie pela criada não-viva, fazendo com que o laço entre os dois se torne ainda maior.
Filmado num luminoso preto e branco – cheio de sobreexposições opressivas – Miss Zombie é um trágico conto de um triângulo familiar com uma criança e duas figuras maternais. O universo fantástico do filme encaixa perfeitamente nas pretenções dramáticas do relato, que é contado sempre com um ritmo frequentemente opressivo e assertivamente artístico.
Uma combinação perfeita do fantástico com o “arthouse“, numa prova viva de como o cinema japonês consegue sempre nos surpreender – e como ainda há história de “zombies” novas para contar.
O melhor: A fotografia e a realização.
O pior: Os primeiros 20 minutos podiam ser mais breves.
José Pedro Lopes
