Terça-feira, 19 Março

«The Attack» (O Atentado) por Jorge Pereira

 

A experiência que o Dr. Amin Jaafari passa em The Attack faz-nos lembrar a jornada que os filhos de Nawal Marwan, de Incendies – A Mulher Que Canta, têm de atravessar para conhecer a vida passada da mãe. Na verdade, ambas são viagens às origens, ambas passam pela Palestina, e ambas trazem surpreendentes revelações que nos mantém presos sob arames até ao desenlace.

Nesta adaptação ao cinema do best-seller de Yasmina Khadra, o foco são os eventos que ocorrem num restaurante cheio em Telavive, local onde uma mulher faz explodir uma bomba que dissimulava debaixo da sua túnica de grávida. Durante todo o dia, Amin, um consagrado cirurgião árabe que faz a sua vida em Israel, opera em cadeia as inúmeras vítimas desse atentado, a maioria delas crianças, mas mais tarde é informado – para seu enorme espanto – que o bombista suicida foi a sua própria mulher. A partir daqui Amin parte numa busca sem tréguas pelos responsáveis, que segundo ele conseguiram convencer [lavar cerebralmente] a sua mulher a fazer isso.

Apesar de ser inevitável, nos filmes executados nesta região, abordar algumas questões politicas e religiosas, esta é acima de tudo um estudo à jornada pessoal de um homem cuja masculinidade foi beliscada e que se recusa a acreditar que a mulher lhe conseguiu esconder tantos anos a sua agenda dupla.

Por outro lado, há também uma clara regressão às suas próprias origens, especialmente quando o médico visita Nablus, na Palestina, onde vai voltar a contactar com a irmã, e quando recorre à sua própria memória, sendo usados para isso flashbacks que nos fazem lembrar os que Jim Caviezel tinha em A Barreira Invisível, de Terrence Mallick. Estas viagens à mente são profundamente reveladoras dos momentos íntimos do casal, mas também de situações que na altura passaram como irrelevantes mas que dado os eventos recentes ganham uma nova importância.

No todo, este é assim um filme sobre vidas duplas, não só da nossa bombista suicida, mas igualmente de Amin, que nitidamente está preso entre as origens que deixou para trás (Palestina) e a sua vida no país que lhe permitiu ser o que é (Israel).

O Melhor: Bem filmado por Ziad Doueiri
O Pior: Demasiado simples e superficial nas questões politicas


Jorge Pereira
(Crítica originalmente escrita em novembro de 2013)

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