Sexta-feira, 29 Março

«Cherchez Hortense» por Roni Nunes

Uma das vertentes deste Cherchez Hortense é um diálogo entre Ocidente/Oriente e há um momento onde uma personagem justifica o seu interesse em visitar a China como uma forma de aprender com os asiáticos o conceito de “paciência”. A noção deve dizer particularmente algo ao realizador Pascal Bonitzer: embora distante do cinema contemplativo, ele não demonstra pressa nenhuma em contar essa quase anedótica desconstrução existencial de um homem.

Este é Damien Hauer (Jean-Pierre Bacri), um professor de cultura chinesa que subitamente vê todos os laços, surpreendentemente frágeis, da sua vida desmoronarem. É a sua mulher, a encenadora Iva (Kristin Scott Thomas), que está a ser assediada por um ator que trabalha numa peça sua, o seu pai terrivelmente ausente (Claude Rich) que o obriga a humilhar-se para obter um favor, a aparição de uma frágil e atraente mulher (Isabelle Carré): tudo se conjuga para, num curto espaço de tempo, virar a sua vida de cabeça para o ar.

E é na diversidade multicultural de Paris que se movimentam estas personagens, num diálogo que envolve, não só o Oriente, como também os Balcãs. Os franceses aparecem em encruzilhadas emocionais ou simplesmente afundados no egocentrismo mais atroz e incapazes de ouvirem-se uns aos outros. O filme nunca atinge o arrebatamento, mas é construído de uma forma sólida e com bons momentos de humor, para além de um excelente elenco.

O Melhor: a sólida construção dramática
O Pior: algumas partes menos interessantes


Roni Nunes

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