Sexta-feira, 29 Março

«Blind Detective» por Jorge Pereira

Sem nunca esquecer o lado criminal que tanto marca a sua cinematografia, o fértil Johnnie To dá neste Blind Detective um forte timbre slapstick, piscando ainda o olho ao romance, tudo isto com resultados mistos, numa fita que segue uma tradição da comédia de Hong Kong onde as situações over-the-top acumulam-se e até onde não falta uma já vista e revista cena de luta no topo de um edifício que se transforma numa dança de salão.

Em termos formais, nada disto é criticável per se e, se pensarmos bem, com esta abordagem To tinha potencial para criar algo excêntrico e entusiasmante, ele que já nos deu tantos filmes de ação memoráveis (Vingança, Breaking News, Triângulo), como dramas românticos bem elaborados (Turn Left, Turn Right, por exemplo). Porém, muito pouco funciona neste Blind Detective, que não só acaba por ser um filme menor na carreira do cineasta, como também das menos surpreendentes comédias de ação românticas do ano.

Os atores  Andy Lau e Sammi Cheng reencontram-se aqui 13 anos depois de terem protagonizado para Johnnie To e Wai Ka-Fai o filme Needing You. Desta vez o duo encontra-se em cena quando enquanto procuram um criminoso que anda a lançar ácido sobre as pessoas. Ele, Chong Si-teun / Johnston, é um antigo policia que depois de ficar cego age como detetive na caça a recompensas. Ela, Ho Ka Tung, é uma policia sem mente de detetive. Impressionada com a forma como Johnston consegue detetar, mesmo sendo cego, os criminosos, Tung convence-o a que ele a ajude a resolver um caso arquivado que a atormenta. A partir daqui começa uma investigação aprofundada, mas Johnston tentará nesse percurso resolver outros crimes que entretanto não conseguiu solucionar.

Se por um lado é inegável que algumas situações hilariantes surgem através da interpretações forçosamente e premeditadamente excessivas de Lau e Cheng [nunca esquecendo Suet Lam, um habitué nos filmes de To], por outro é também inegável que a obra dispersa-se por demasiadas situações e casos arquivados que lhe tiram foco, direção, ritmo e consequentemente interesse. Esse sobrecarregamento da narrativa, onde não ajudam as suas mais de duas horas, torna-se ainda mais visível quando as interpretações dos protagonistas caiem na repetição de situações e atitudes, perdendo-se mesmo o estatuto de entretenimento ligeiro e entrando assim toda a fita numa espécie de loop redundante.

O Melhor: Alguns momentos de humor muito por culpa da boa prestação dos atores
O Pior: Argumento que tende para a dispersão e redundância


Jorge Pereira

Notícias