Sábado, 20 Abril

«Dallas Buyers Club» (O Clube de Dallas) por Paulo Portugal

A presença avassaladora de um escanzelado e homofóbico Matthew McConaughey, a encarnar o cidadão americano verdadeiro Ron Woodroof, infetado com o vírus HIV, no bravo Dallas Buyers Club, do canadiano Jean-Marc Vallée, deu-lhe já um lugar provisório na lista dos potenciais candidatos aos Óscares.

É certo que os índices –’escanzelado’ e ‘vírus da sida’, para além da personagem real – são indicadores históricos desse reconhecimento, no entanto, a presença deste cowboy gingão que gosta de pegar touros, tem uma chama e intensidade que nunca desliga e sempre se mantém no mais alto nível de entrega.

Tudo começa em meados dos anos 80, após uma cena de sexo com duas mulheres, antes de uma pega e um acidente que o remete ao hospital. Algo que se prolonga e complica quando o médico lhe diz que tem HIV e um mês de vida. Incrédulo primeiro, resistente depois, decide informar-se sobre a doença e percebe que o sistema de saúde não estava a usar as drogas por não estarem cientificamente testadas, ou porque existia uma reação de marginalização contra a comunidade homossexual e toxicodependente fomentada pela administração Reagan.

É no México que irá encontrar um médico desacreditado pela sua classe que lhe fornece o medicamento que irá atrasar bastante a evolução do vírus. Assim, em vez dos 30 dias, acabará por viver alegremente algumas centenas sem sintomas… nas diversas ocasiões em que atravessa a fronteira vestido de padre e com a mala cheia de medicamentos milagrosos.

Inicia-se assim o que vem a ser conhecido como o Dallas Buyers Club, em grande parte promovido pelo travesti Rayon, numa igualmente espantosa prestação de um irrepreensível Jared Leto, a estrela dos 30 Seconds to Mars a gritar por um igual reconhecimento como ator secundário. Isto quatro anos depois do seu hiato como ator, após Mr Nobody.

McConaughey está no seu mais alto nível. Seja como cowboy rural, sedutor homofóbico, mas também padre disfarçado ou até como o enfermo terminal. Só que não se trata de Filadélfia. Aqui não há lugar para comoção. É mesmo a força da sua presença e espírito que empurra o filme.

 


Paulo Portugal

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