Sexta-feira, 29 Março

«The King of Pigs» por Jorge Pereira

 

Quer seja no mundo escolar, quer seja no mundo do trabalho, sempre irão existir os «cães» e os «porcos». «The King of Pigs», filme de animação que tem feito furor em diversos festivais – como na Quinzena dos Realizadores em Cannes – funciona como um alegoria do mundo e da forma como nos enquadramos nele, mas acima de tudo é uma mensagem de puro desalento.
 
Hwang Kyung-min é um homem de negócios à beira da bancarrota. Jung Jong-suk é um homem simples que deseja ser escritor, mas cuja vida recusa sinais de evolução. Estes dois foram colegas na escola e juntos como outros idealizaram uma espécie de conceito de herói pelo qual lutaram ser. No fundo, eram porcos que queriam derrotar os cães e trazer mais justiça a um mundo injusto.
 
Passados quinze anos, ambos encontram-se em pontos de ruptura com as suas vidas, não crendo que o herói que conheceram outrora ainda exista ou possa subsistir.
 
Com mais camadas que uma cebola, «The King of Pigs» é bem mais que o típico filme que se apodera do bullying para contar uma história corriqueira de poder e força pessoal. Acima de tudo, este é um trabalho sobre a desilusão de termos chegado a um ponto da nossa vida em que já não nos reconhecemos e de certa maneira assassinamos o jovem idealista e forte que havia em nós. A confiança é substituída por uma espécie de sobrevivência ao imediato e o amor-próprio dissipa-se ou é substituído por banalidades.
 
Por outro lado, quando um «porco» derrota um «cão», existe sempre a tendência de se iniciar uma metamerização pessoal e daí até soltar os próprios latidos é um passo. Assim, «King of Pigs» tem o dom de colocar o espectador a pensar e ao mesmo tempo prova – se é que ainda havia dúvidas – que por ser um trabalho de animação torna-se de certa maneira mais apetecível aos mais novos. Longe disso. Esta animação coreana é assombrada sempre por um tom adulto, a maioria das vezes sombrio, cruel e visceral que dá uma maior densidade a um enredo já de si pesado. Por ser animação, ganha sim um maior à vontade para se aventurar em figuras surreais, muitas vezes alucinantes – que representam visualmente o que vai na mente das suas personagens. 
 
Por tudo isto, «King of Pigs» merece uma atenção especial, e faz jus ao «hype» que tem criado por onde tem passado.
 
O Melhor: É mais do que aparenta ser
O Pior: Falta-lhe algum carisma para ascender a um patamar superior
 

Jorge Pereira 

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