Quinta-feira, 28 Março

«Everybody in our Family» por Jorge Pereira

O cinema romeno tem apresentado uma série de obras nos últimos anos que tem apresentado uma vida muito própria. Radu Jude (que foi assistente de realização de A Morte do Sr. Lazarescu) tornou-se uma estrela dessa nova vaga quando em 2006 apresentou a curta metragem The Tube With a Hat.

Aqui, neste Everybody in our Family seguimos uma familia após um dificil divórcio. Isso não sabemos à partida, mas apenas ao longo da história vamos apanhando todos os detalhes. No início apenas nos deleitamos com os preparativos de um homem para ir buscar a filha e seguir viagem para umas férias a dois. Pelo caminho ele faz uma paragem na casa dos país e após uma violenta discussão com o progenitor, ficamos logo com a sensação que a idilica mas desajeitada imagem deste homem (num jeito adolescente que se recusa a crescer) pode ter algo a esconder. Sim, claro que a ressaca matinal, os tais problemas com o pai, o cigarro eletrico que carrega (e sugere uma batalha contra a nicotina) e os problemas com o carro, não o ajudam quando deveria ter mais calma. Por isso, e mal ele chega a casa da ex-mulher, é confrontado como facto de a filha ter estado adoentada e por isso não poder ir de férias. Agastado com a situação, e porque sente que tem direito às férias, o homem começa aos poucos a carburar mas ainda estamos longe da ebulição.

Jude filma tudo de maneira a dar a ilusão de estarmos a assistir a ao filme em tempo real, aproveita-se dos close-ups e da câmara na mão para nos prender junto com aqueles seres crueis.

A partir do momento em que existe uma pequena escaramuça com o novo companheiro da ex-mulher, tudo muda. O filme entra então na mais louca rota entre obcessão e loucura, sempre com o pretexto do amor de um pai pela filha (que já nem quer ir de férias com ele). Tudo se torna irracional, as personagens são crueis umas com outras e a pequena criança apenas se esconde num caixote não entendendo bem a dimensão de tudo.

Frenético é o minimo que se pode dizer desta obra de Jude, um cineasta que consegue, no meio de atos verdadeiramente tresloucados, por ainda em xeque o espectador com um humor cortante, muito vezes por culpa dos eventos bizarros que vão-se acentuando naquela casa e pela reacção das personagens (em especial da sogra).

No final, temos uma conclusão que não o é, mas que deixa espaço ao espectador para respirar após um intenso de imprevisivel desenvolvimento.

Uma nota final para o elenco desta obra que de forma soberba consegue nos agarrar pelas mãos e fazer-nos viver as cenas como se estivessemos (também nós) amarrados e amordaçados.

A não perder…


Jorge Pereira
(Crítica originalmente escrita em maio de 20129

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