Sábado, 20 Abril

«Attenberg» por Jorge Pereira

A sequência inicial de «Attenberg», antes de passarem os créditos iniciais, revela logo a natureza da obra. Nessa cena, Bella (Evangelia Randou) tenta explicar a Marina (Ariane Labed) como se beija, apesar de esta parecer enojada com a situação. As duas acabam por se chatear e discutem de forma animalesca. E tomem atenção, quando digo animalesca não é metáfora. Literalmente agacham-se e que nem dois animais selvagens ameaçam-se uma à outra.
 
Assim é «Attenberg», título que advém da má pronunciação do nome de Sir Richard Attenborough, e que funciona como um desses documentários sobre a vida animal. Só que aqui os visados pelas câmaras são humanos, confusos e com inúmeros problemas no seu crescimento pessoal.
 
Marina tem de lidar com dúvidas sexuais, como o facto de aparentemente ser assexuada e de ter de lidar também com a certa morte do pai a curto prazo. Tudo isto, do sexo à morte, é desenvolvido como um ritual de passagem para a idade adulta, e são inúmeros os simbolismos que a obra apresenta para definir isso mesmo.
 
E tal como os documentários de Sir Richard Attenborough, os humanos de «Attenberg» parecem mecanizados e pré-destinados a um ciclo de vida e tempos «certos».
 
O facto da acção se situar numa pequena cidade costeira onde quase nada há para fazer dá ao filme um tom ainda mais solitário e minimalista, não sendo de estranhar que Marina queira que os seus ombros aparentemente tenham asas incapazes de abrir.
 
Com diversas questões freudianas em jogo, «Attenberg» acaba por ser um trabalho curioso e revela uma cineasta com alguma força e boas ideias, mas que por vezes devia ser mais expedita e menos cliché nos simbolismos, porque quer queiramos, quer não, esta é uma obra construída para Festivais de cinema, e muito dos tiques destes trabalhos, estão presentes…
 
O Melhor: É arrojado no que toca ao cinema dito comercial. 
O Pior: É cliché nos simbolismos do cinema construído para Festivais
 
Jorge Pereira
 

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