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Jean-Claude Brisseau: “Há um grande movimento contra homens não homossexuais”

Por ocasião da estreia do seu novo filme, Que le diable nous emport, Jean-Claude Brisseau falou com a revista Paris Match e, apesar de ter avisado os jornalistas que só abordaria a sua obra, e não o clima atual que se vive agora, ou o caso de assédio sexual nas filmagens de Coisas Secretas, pelo qual foi condenado em 2005, o realizador não conteve as emoções, afirmando que hoje em dia “há um grande movimento contra homens não homossexuais“.

O realizador de filmes como Noce blanche e Os Anjos Exterminadores diz que os tempos atuais de “delação” revoltam-no e que vivemos novamente numa histeria mccartista. Como exemplo, Brisseau mostra-se ainda chocado com a anulação de uma retrospetiva à sua obra na Cinemateca Francesa após protestos de grupos feministas: “Confesso que o caso da minha retrospectiva cancelada na Cinemateca escandalizou-me”.

Numa outra entrevista ao 20 minutes, Brisseau desvenda um pouco mais do que sente nos dias de hoje, recusando proteger-se dos comentários feitos sobre ele nas redes sociais: “Quando vemos o que acontece nas artes, onde abordamos um conto de fadas da dizer que o príncipe da Bela Adormecida é um predador sexual, sinto que estamos a caminhar de forma irracional. Entrámos numa época de caça às bruxas”.

O realizador diz ainda  – a Paris Match – que a imagem que é vendida dele atualmente é a de um “super-violador” e que por causa destas polémicas não conseguiu mais filmar com grandes vedetas do cinema francês. Nesse aspeto, apenas um grande nome tinha concordado em ensaiar com ele, Sylvie Testud. E embora tivesse durante uns tempos um projeto agendado com Léa Seydoux, que lhe contou os seus infortúnios com o cineasta Abdellatif Kechiche nas filmagens de A Vida de Adèle, foi vitima de novos ataques à sua pessoa e a atriz tornou-se novamente inalcançável: “Espero que volte a filmar novamente depois da campanha de denigração feita contra mim”, conclui.

Que le diable nous emport

Que le diable nous emport estreou esta semana em França e é descrito como um conto erótico e filosófico, filmado em 3D, em torno de três mulheres decididas a seguir as suas vidas com ou sem homens.

Quando questionado pelos 20 minutos como ainda pode falar de sexo após a sua condenação em 2005, Brisseau é peremptório: “A sexualidade feminina é um assunto que me interessa! Este é um tema importante e não vejo por que vou parar de abordá-lo. Que isso possa chocar, dá-me o direito a preservar-me, mas acho que estamos a prejudicar a causa feminista misturando tudo. Até fui criticado por não ser legítimo falar sobre a sexualidade feminina, pois não sou uma mulher … Eu sempre tentei colocar dar valor às mulheres e esse também acontece em Que le diable nous emport. Algumas até me vieram agradecer dizendo que os meus filmes as faziam descobrir o prazer”