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Estónia, Japão e o submarino amarelo: arranca hoje (08/03) a Monstra

Quase 600 filmes de 93 países e representando cinco continentes são o resultado de uma busca da diversidade que carateriza o maior festival de animação portuguesa. A Monstra 2018 abre oficialmente hoje (08/03) no cinema São Jorge, em Lisboa, depois de A Idade da Pedra ter sido exibida ontem como uma antestreia ao circuito comercial. O festival decorre até dia 18 e espalha uma panóplia de filmes e atividades paralelas por diversos espaços da cidade.

Para a sessão de Abertura ficou reservado a antestreia mundial de 4 Estados da Matéria, obra portuguesa de Miguel Pires de Matos, seguido de O Círculo, trabalho do país homenageado deste ano, a Estónia, e realizado por um dos seus cineastas mais conhecidos, Terje Henk. De assinalar ainda a possibilidade de conversar com Nick Park, o célebre animador dos estúdios Aardman responsável por obras como A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit – A Maldição dos Homens-Coelho (em exibição no festival) num encontro com o público que ocorre no sábado, dia 10.

Diversidade

Em conversa com C7nema o diretor da Monstra, Fernando Galrito, salientou os princípios de humanismo e busca de diversidade que norteiam o certame. Segundo ele, o festival oferece um espaço privilegiado de encontros e partilhas que vão ao encontro dos mais salutares princípios humanistas – isto em tempos que este parece regredir.

Da mesma forma, a intolerância é fortemente combatida com uma programação que abrange uma vastidão geográfica em escala planetária. “Se conhecermos sociedades distantes da nossa, percebemos que apenas uma minoria promove a violência. A maioria deles quer partilhar o mesmo que nós, a sua cultura. Assistindo-se animações de outros lugares percebemos que eles não são tão diferentes de nós“, observa.

Clássicos

Entre os clássicos do cinema de animação que a Monstra recupera está Submarino Amarelo, de 1968. Nesta aventura dos Beatles na Pepperland os “fab four” inspiram com uma das suas músicas mais famosas um filme único que é a cara do final dos anos 60 – com seus “slogans” de paz e amor e as cores fortes da psicodelia. “É uma espécie de tratado artístico, sociológico e político de uma época, uma obra que vale a pena rever“, diz. Submarino Amarelo foi realizado por George Dunning e traz a estreia na animação de Paul Driessen, mestre belga que também estará em Lisboa e cuja nova curta-metragem, A Origem do Som, aparece na Sessão de Encerramento em antestreia mundial.

Belleville Rendez-Vous é uma das obras-primas de Sylvain Chomet. A história que liga desporto (a Tour de France) e abuso infantil tornou-se num dos filmes mais notórios dos anos 90. Conforme analisa Galrito, “do ponto de vista estético é muito forte e marca um quase ‘lado cubista’ de Chomet, carregado de influências musicais e muita inventividade“.

Competição

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Breadwinner (A Ganha-Pão), que no início da semana era um dos cinco nomeados para o Oscar de Animação, abre a Competição. Conforme o diretor da Monstra, “é um trabalho tocante que tem a ver com os dramas que estamos a viver atualmente, abordando a questão dos refugiados, as diferenças de género ainda muito fortes em algumas culturas e as dificuldades económicas, que obrigam os mais pobres a usar a criatividade para sobreviver. Nos faz pensar muito sobre a vida atual“.

Outros destaques da Competição são A Gata Cinderela, obra que aborda as profundas contradições da sociedade italiana atual, Tem um Bom Dia, sobre o choque entre o velho e o novo na China e, para todas as idades, trabalhos como Os Comedores de Meias, da República Checa.

Japoneses

Os japoneses serão objeto de três retrospetivas. Galrito faz as apresentações: “Mamoru Hosoda é um grande realizador e terá uma mostra com quatro filmes, onde um dos quais já ganhou um prémio na Monstra na nossa primeira Competição. Ele é da nova geração e sai um bocado fora do manga mais original. Todos os amantes de cinema de animação em geral, japonesa em particular, não podem perder“.

Já Kunio Kato é o oscarizado responsável por A Casa dos Pequenos Cubos e traz “um novo olhar, mais fresco“, enquanto Koji Yamamura tem trabalhado, ao longo dos últimos dez anos, a partir de músicas de grandes compositores. O cineasta terá retrospetiva com “três obras fabulosas” e estará em Lisboa para uma masterclass com membros da sua equipa de criação de Water Dreams.

De destacar ainda Gauche, O Violoncelista, trabalho de um dos criadores dos estúdios Gigbli, Isao Takahata, e nunca estreado em Portugal. “É um filme muito bonito de um grande mestre, que de certa forma fez a transição entre a banda desenhada e o cinema“.

Estónia

Haverá quem não saiba onde fica este pequeno país do Báltico e uma das repúblicas da falecida União Soviética. Apesar da sua dimensão, no entanto, segundo Fernando Galrito é um dos grandes centros de produção de animação da Europa – construindo uma longa tradição iniciada em 1931 e fortalecida durante o período soviético. O país foi pioneiro no uso do 3D na animação de marionetas e sediou uma escola em constante renovação por sucessivas gerações. Além disto, o trabalho não se parece com nada feito nos Estados Unidos, na França ou no Japão. “É um cinema de grande personalidade, único. É mais fácil encontrar cineastas russos influenciados pelos estónios do que o contrário“, conclui.