Terça-feira, 19 Março

Conhecendo a Mostra de Tiradentes – festival pioneiro do cinema de autor no Brasil

 

Todos os anos no mês de janeiro no estado de Minas Gerais, Brasil, a pequena cidade de Tiradentes, localizada a quase mil metros acima do nível de mar e com uma população em torno de 7 mil habitantes, é invadida por um enorme evento cinematográfico. Em 2018 a Mostra de Tiradentes chega a sua 21ª edição e, entre 19 e 27 de janeiro, vai exibir 30 longas-metragens e 72 curtas. Um dos pontos fortes são os debates: nada menos que 34 estão previstos – contando com a presença de um número considerável de convidados do meio cinematográfico.

Café e Canela, obra de Glenda Inácio e Ary Rosa, também selecionada para o Festival de Roterdão, que inicia a 24, fará as honras de abertura e encerra com as tonalidades surrealistas de A Moça do Calendário. O homenageado este ano é Babu Santana, conhecido do grande público por encarnar Tim Maia na sua “biopic”, mas com uma carreira assinalável no universo do cinema independente.


Café e Canela

Um dos temas deste ano é o Chamado Realista, que um dos curadores, Francis Vogner dos Reis, explicou em conversa com o C7nema como “um debate sobre o modo como  as demandas do real e o próprio material da realidade integra os mais diferentes filmes de maneira insinuante”.

A Mostra vai para a sua 21ª edição e conta com uma extensão em São Paulo. Desde o seu início até hoje a estrutura e o alcance do festival mudou muito?

O que mudou na verdade foi o cinema brasileiro. A mostra Autora é exemplar nesse aspeto: de Estrada para Ythaca, dos irmãos Pretti e dos primos Parente, passando por A Cidade é uma só, de Adirley Queirós, e chegando à Baronesa, de Juliana Antunes, muito coisa aconteceu nos modos de produção, muitas carreiras ganharam corpo e o interesse estético e inflexões políticas dos realizadores mudaram.

O festival, grosso modo, continua se baseando na dinâmica exibição-debate e, a cada ano, é uma temática ajuda a dar uma orientação para os debates e proporciona um recorte para se compreender algumas questões em jogo nos filmes de cada edição. O festival está atento para o que vem sendo feito. Isso não mudou desde que o Cléber Eduardo assumiu a curadoria em 2007.

Como vê a representatividade do festival no panorama do cinema brasileiro?

Ele tem o seu lugar na proposição do debate dos filmes e sobre os filmes, é também importante no lançamento de muitos realizadores em início de carreira e faz um esforço particular no sentido de esboçar um desenho da produção brasileira contemporânea. Existem hoje outros festivais muito importantes – também de orientações de curadorias diversas, Tiradentes é mais um deles e considero pioneiro na atenção e defesa da produção independente da última década.

O cinema de autor é um dos vossos focos notórios. Como vocês pensam o festival sobre esta perspetiva? Também há cinema de género?

Sim, existe uma perspetiva de defender um cinema com filmes que busquem uma assinatura particular, mas que não necessariamente é a do “autor pessoal” , o realizador, que se notabiliza por um estilo distintivo.

Tiradentes foi um dos primeiros festivais a dar atenção aos coletivos, a um tipo de realizador muito próximo da figura do artista conceitual, do “performer” do universo das artes visuais ou aos cineastas iniciantes que ainda não possuem uma obra – logo não seriam necessariamente autores. Nos últimos anos o festival tem dado atenção aos filmes de gênero (horror, comédia, ficção científica), porque tem aparecido filmes muitos expressivos nessa área.

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