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Drama de Marco Bellocchio abre hoje (05/04) a Festa do Cinema Italiano

Fai Bei Sogni (Sonhos Cor-de-Rosa na edição portuguesa, que estreia comercialmente a 06/04) chega com o selo da Quinzena dos Realizadores (Festival de Cannes) e a longa experiência do septuagenário cineasta para abrir a 10ª edição da Festa do Cinema Italiano. O festival vai decorrer em Lisboa entre 5 e 13 de abril, agregando ainda cidades como Porto, Coimbra, Setúbal e Almada.

Segundo o diretor Stefano Savio, em conversa com o C7nema, a grande qualidade do filme é tirar alguma obviedade com relação à forma como o livro que o inspirou está estruturado. Enorme sucesso em Itália, a obra autobiográfica de Massimo GramelLini conta a história de um menino cuja a trajetória na fase adulta é marcada pela morte da mãe quando tinha nove anos. “Bellochio mantém uma sobriedade, um distanciamento típico do seu cinema – ele fica a olhar de longe os personagens sem cair no sentimentalismo“, avalia.

Rindo à italiana

Um dos destaques deste ano é uma homenagem à Commedia all’italiana, que incluirá uma mostra de dez filmes de Dino Risi – um dos mestres do estilo que perdurou entre o final dos anos 50 e o início dos 70 e gerou uma boa quantidade de obras-primas e outros grandes cineastas, como Ettore Scola e Mario Monicelli. A retrospetiva é objeto de um artigo especial (brevemente). Ainda no universo cómico, a seção Amarcord vai buscar ainda Lo chiamavano Trinità (Trinitá, o Cowboy Insolente), clássico popular dos anos 70.

Mundos barrocos

De olhos postos no passado outro destaque é a possibilidade, imperdível particularmente para fãs de cinema de terror, apreciar no grande ecrã o potentado visual de Suspiria (1977). Acompanhado pela partitura mítica de Goblin, Suspiria é um dos grandes clássicos da história de género. Com os direitos comprados pela Il Sorpasso, a associação que organiza a Festa, o filme terá várias exibições no El Corte Inglés – antes de uma planeada edição em DVD.

No universo da animação e, igualmente, outro exemplo do gosto italiano pelos espetáculos exuberantes e barrocos, Allegro non Troppo, de Bruno Bozzetto, junta seus delírios visuais ao Bolero de Ravel – numa das obras mais importantes do estilo.

São ambos filmes estilizados, refinados…“, diz Stefano Savio, “…ainda que, no caso de Alegro non Troppo, tenha havida uma preocupação um pouco maior com a história“.

Dramas juvenis

A competição traz, como habitualmente, seis títulos – que, este ano, poderiam compor metade da secção Gerações da Berlinale – embora muitos tenham passado mesmo é pelo Festival de Veneza.

Isso porque, à grande exceção dos dilemas filosóficos de Orecchia, os demais são todos centrados em temas jovens – sejam coming-of-age dificultados por uma família destruída (La Pelle dell’Orso), por uma sociedade hostil (Un Bacio, Fiore), ou pelos estreitos limites de uma Testemunha de Jeová que se relaciona com um delinquente no intenso La Ragazza del Mondo.

Em Piuma os jovens são mais crescidos – embora não propriamente marcados pela maturidade quando uma gravidez inesperada vai-lhes marcar a passagem forçada para a vida adulta.

Autores de sucesso

A mostra de cinema contemporâneo italiano apresenta 14 títulos – entre os quais trabalhos da veterana Cristina Comencini (Qualcosa di Nuovo) e as antestreias nacionais de Se Deus Quiser, que contará com a presença do ator e realizador Edoardo Léo, e Le Confessioni. Neste último caso, o realizador Roberto Andó, que também virá a Lisboa, envereda pela sua conhecida veia política vinda de “Viva a Libertade“, trazendo novamente o incontornável Toni Servillo no protagonismo. Já 7 Minuti traz à capital portuguesa a atriz Volante Placido para apresentar a sessão.

Perfetti Sconosciusi é, certamente uma das grandes apostas, dado o currículo de Paolo Genovese, que já compareceu há Festa há três anos com o brilhante La Familgia Perfetta. “Genovese é um argumentista muito interessante. Como ele tem muito sucesso em Itália, ele faz um compromisso com as produtoras – que, a cada três filmes mais ‘comerciais’, ele pode ‘fazer um à sua maneira. Que terminam por ser bem-sucedidos também“, assinala o diretor da Festa.

Por seu lado a sequela de Smetto quando Voglio, que leva o título adicional de Masterclass, traz o misto de comédia com crítica social onde os italianos são especialistas. A criação de Sidney Sibilia trata de génios académicos desempregados que criaram, no primeiro filme, uma droga perfeita – tornando-se, claro, traficantes.

Desafios

Já o filme de encerramento, In Guerra per Amore, segue de perto as pisadas do magnífico  La mafia uccide solo d’estate, que venceu a competição há três anos. O realizador Pif (abreviatura de Pierfrancesco) novamente cruza uma história de amor aparentemente inofensiva com um vigoroso retrato desta instituição milenar da Sicília – a máfia.

Para os fãs de delírios, experimentos e “maluqueiras” em geral, 2017 vê o retorno da “Altre Visioni”, uma seção dedicada a isso mesmo – obras ousadas que desafiam mais radicalmente o espectador. Serão quatro filmes: Spira Mirabilis, My Italy, Le Ultime Cose e I Tempi Felici Verranno Presto.

Os eventos paralelos incluem ainda sessões musicais (ver aqui [1]), encontros que discutem o cinema italiano, uma sessão sobre o famoso museu de Ufizzi, de Florença (Firenze e Gli Uffizi), entre outros.