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Inês Castel-Branco: “fiquei completamente apaixonada por Snu Abecassis”

Mais conhecida pela participação em séries e novelas na TV como Morangos com Açúcar, Doce Fugitiva, Lua Vermelha ou Mar Salgado, a atriz Inês Castel-Branco vai mantendo igualmente uma carreira no Teatro e tem agora no Cinema, neste Snu, o seu primeiro grande papel no grande ecrã.

Ela é Ebba Merete Seidenfaden, a editora dinamarquesa que ficou conhecida por todos como Snu Abecassis. O filme de Patrícia Sequeira foca-se na história de amor e coragem vivida entre Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro, isto até ao trágico acidente que lhes ceifou a vida em Camarate na noite de 4 de dezembro de 1980.

O c7nema esteve à conversa com a atriz, a qual nos falou da investigação que fez para o papel, de como foi trabalhar com Pedro Almendra e Patrícia Sequeira, e aquilo que mais a fascinou em Snu Abecassis.

Aqui ficam as suas palavras:

Como é que te preparaste para este papel? Houve uma grande investigação?

Começou com as investigações e observações que a Patrícia [Sequeira] me passou. Ela já estava completamente dentro da história do guião e daquilo que queria fazer, dos símbolos que queria usar. A partir daí, foi um trabalho mais solitário. Ler, ler, ler. Não só sobre a Snu, mas sobre o Sá Carneiro, a época, a cultura escandinava, a escola onde ela estudou, tudo isso. Depois foi começar a trabalhar com o Pedro [Almendra] e com a Sara Carinhas, que fez a direção de atores do filme. Esse trabalho começou muito antes de começarmos a rodar.

Posteriormente foi juntar isto tudo, mais as entrevistas que fizemos às pessoas que conheciam a Snu: a secretária dela, a secretária dele, uma amiga dela, e várias outras que a Skydreams [produtora] providenciou em encontros. Foram ótimos esses encontros. É completamente diferente ler uma coisa informativa ou falar com alguém que privou com ela. Depois juntamos tudo num “liquidificador” e saiu a minha SNU.

E como foi o trabalho com a Patrícia? Ela disse-me que a Inês é muito expressiva e que a certa altura teve de lhe “amarrar as mãos” (risos)…

(risos) Foi neste trabalho inicial de ensaios com a Sara Carinhas, nas primeiras improvisações que fizemos. Eu estou muito mais habituada a fazer televisão e nesse meio usa-se muito mais o corpo do que em Cinema, até porque os planos são mais abertos e é outro tipo de linguagem. E ela começou a policiar-me e a dizer: “não quero que te mexas“. Aliás, acho que estava com este casaco e ela virou-o ao contrário e fez dele um colete de forças. “Agora vais fazer a mesma coisa sem braços“, disse (risos).

Já existe uma enorme intimidade entre nós. Quando trabalhamos juntas, ela pode fazer de mim o que quiser. Até colocar um colete de forças (risos). E sim, essa intimidade também ajuda depois no produto final.

E havia algum material em vídeo da própria Snu em que te pudesses basear?

A única imagem que há é do arquivo da RTP, uma entrevista que ela deu na Feira do Livro, mas não tem som. Assim, não dá para perceber. Nunca ouvi a Snu a falar. Nunca ouvi a voz da Snu.

Como foi trabalhar com o Pedro neste “grande amor”?

O Pedro foi a mais agradável surpresa do filme. Foram várias as surpresas, mas ele foi a maior. Eu não o conhecia. Conhecia algum trabalho dele, já o tinha visto em Teatro. Mal soube que seria ele, perguntei logo a alguns amigos se já o conheciam e toda a gente dizia sempre as melhores coisas sobre ele. Ele tem mesmo muito bom feitio a trabalhar e quando o conheci percebi que a nossa entrega era igual e gigante.

Ele é muito generoso. Isto parece um lugar comum, mas não é. Às vezes, um ator generoso faz metade da química entre um e outro. Isto é um jogo. Para além disso, sempre teve um sentido de humor ótimo e mostrou sempre interesse em falar da pesquisa que fizemos.

Acho que ele fez muito bem a interpretação do Sá Carneiro, a nossa interpretação do Sá Carneiro apaixonado.

Existe algum plano de lançar o filme internacionalmente?

Não faço ideia, mas penso que sim. Tendo em conta que o outro filme de Patricia – Jogo de Damas – esteve em vários festivais e ganhou prémios.

E agora aquela pergunta: Teatro, TV ou Cinema? Onde gosta mais de trabalhar?

Tudo. Cada um dá prazer à sua maneira. Aquele que tenho mais dificuldade é o Cinema, mas se calhar é pela falta de experiência. Mas tudo me dá prazer.

Estás sempre aberta ao Cinema?

Sim. Estou aberta a tudo, desde que os projetos não se sobreponham, senão o meu filho não me vê. Gosto de fazer boas personagens e boas histórias e acho piada às três linguagens diferentes. Acho piada a representar, é o que eu gosto.

Tivemos na televisão há pouco tempo a Snu, interpretada pela Victória Guerra. O que achaste do trabalho dela?

Vi muito pouco, pois não me queria influenciar, mas estava muito curiosa. Não só porque acho que a Victoria é uma atriz “de mão cheia”, mas porque também é minha amiga. Nós falamos bastante sobre a Snu e é engraçado porque sempre assumimos que ela ia fazer a Snu nova e eu a Snu no final [da sua vida]. E eu quis vê-la precisamente por isso. Acho que uma podia completar perfeitamente a outra. A Snu dela, que era mais nova e chegou a Portugal um bocadinho assustada com o que encontrou, e depois a minha Snu, que já estava instalada, a participar numa mudança que ela queria fazer.

Não te importa se no mundo do cinema ficares agarrada à personagem da Snu?

Se ficar, fico muito contente. Porque depois poderão vir outros projetos e fico com o nome da próxima. Uma personagem forte tem sempre esse risco, mas a mim isso não incomoda nada.

A Snu fascinou-te mesmo…

Completamente. Fiquei completamente apaixonada por ela e pela sua história de vida. Pelo facto de, apesar de ter uma condição privilegiada – “a vida dela podia ser só comprar vestidos, ler livros em casa e viajar“-, ela querer [mudar as coisas, deixar a sua marca]. Desde miúda. A mãe dela escreve num livro sobre ela, e o diário dela diz isso também. A Snu queria fazer alguma coisa que usasse o cérebro, que mudasse mentalidades e que deixasse uma marca. E foi isso que ela fez.

E agora a seguir? O que é que vais fazer em termos laborais?

Estou a ensaiar uma peça que estreia a 20 de março no Teatro do Bairro, que é Terror e Miséria do Terceiro Reich, do Bertolt Brecht, encenada pelo António Pires. Passa-se na Alemanha ocupada pelos nazis, nos anos 30, com vários quadros: alguns mais trágicos, outros mais cómicos. É isso que tenho feito quase todos os dias, além de promover este filme.

Depois da peça acabar a 14 de abril, começo a gravar uma novela até outubro deste ano. Depois não sei…

Não há Cinema nem há séries no horizonte?

Até agora não. (risos)