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Festival de Sevilha: “O cinema vive uma era dourada”

É no que acredita o diretor de programação Javier H. Estrada, um dos responsáveis pelos títulos do vasto programa do festival (SEFF) que decorreu na cidade andaluz entre 9 e 17 de novembro – que sediou a nomeação para os European Film Awards e também acolherá a cerimónia de entrega de prémios – a 15 de dezembro.

Presente numa edição rica, que contou com centenas de filmes, uma vasta participação de um público entusiasta e, a exemplo do ano passado, concedeu amplo espaço ao cinema português exibindo seis títulos recentes, o C7nema conversou com o programador a título de uma reflexão conclusiva sobre a 15ª edição do festival.

Esta edição termina depois de ter mostrado um ano extremamente rico em termos de produção europeia. Que avaliação faz desta última edição neste sentido? Foi muito difícil chegar à uma seleção final?

Penso que esta foi a edição mais ambiciosa do festival, não só pelo número de obras selecionadas, mas por uma visão extremamente ampla do cinema europeu oferecido. O processo de seleção foi longo e complexo; por desgraça tivemos que deixar de fora um bom número de filmes muito valiosos. Porém isso oferece também uma sensação de exigência e rigor, algo que os espectadores e críticos que vem a Sevilha valorizam muito.

Cada cineasta sabe que tem um lugar específico no nosso programa. Para nós, um objetivo essencial é que os realizadores que passam por cá retornem aos seus países se sentindo valorizados. Pomos um grande empenho nisto – o que não é fácil tendo em vista que 90% dos artistas com filmes selecionados vieram ao festival.

Entre eles tivemos esse ano nomes consagrados, como Roy Andersson, László Nemes, Mia Hansen-Løve, Abdellatif Kechiche, Valeria Golino, Olivier Assayas, Sergei Loznitsa ou Christophe Honoré, mas também novos como Richard Billingham, Petra Szöcs, Dídio Pestana, Jean-Bernard Marlin e Anna Eriksson, entre muitos outros.


Roy Andersson esteve em Sevilha a apresentar imagens do seu novo filme [1]

O vosso festival tem sempre um grande público, com muitas sessões esgotadas. Este por vezes falta ao cinema alternativo quando exibido nas sessões do circuito comercial tradicional. Como avalia isto?

O SEFF consolidou-se como o festival espanhol mais arrojado em termos de busca de propostas cinematográficas que desafiam os códigos tradicionais. Por sorte somos um evento único, que possui um grande público. Isso nos ajuda e nos a anima a seguir apostando numa cinema mais audaz.

Ao mesmo tempo, sabemos que os festivais hoje em dia se constituem numa espécie de oásis. Um público cinéfilo só tem oportunidade de ver filmes de autor em eventos como o nosso e podemos dizer que a resposta é muito positiva.

O problema radica em que, por exemplo em Espanha, a distribuição comercial é muito onerosa e apenas há facilidades para a exibição. Penso que o futuro do cinema não-comercial passa pelo fortalecimento de uma rede de centros culturais e cinematecas.

Em termos estéticos o cinema europeu é historicamente inconformista e o Festival de Sevilha também o demonstra. Este ano encontrou muitas surpresas que desafiavam as narrativas tradicionais? Quer destacar alguns títulos?

Penso que vivemos uma idade dourada do cinema, não só a nível europeu, mas também num plano global. Ao mesmo tempo creio que o cinema tem vivido uma eterna idade de ouro. Sempre existiram mestres e grandes revelações, só fazia falta ser curiosos para encontra-los.

Nesta edição nós mostramos muitas obras deslumbrantes, que registam olhares únicos. Poderia destacar, por exemplo, Ray & Liz, de Richard Billingham, M, de Anna Eriksson, Ruben Brandt, Collector, de Milorad Krstic, Endless Tail, de Željka Suková – ou os portugueses Extinção, de Salomé Lamas, que venceu o prémio da seção “New Waves Non-Fiction”, e A Árvore, de André Gil Mata.