Quinta-feira, 28 Março

Entrevista com José Luiz Villamarim, o vencedor do FESTin 2018

O ritmo cadenciado, os pormenores do uso do som, os travellings, o “duelo” entre dois grandes atores e uso do fora de campo convenceram o Júri da 9ª edição do FESTin, que atribuiu os prémios de Melhor Filme e Melhor Realizador para Redemoinho.

Metido entre o ritmo frenético das filmagens de uma série televisiva, Villamarin encontrou algum tempo para explicar ao C7nema alguns dos seus objetivos ao adaptar uma história densa e repleta de tragédia do escritor Luíz Ruffato ao mesmo tempo que imprimia uma linguagem cinematográfica distante das fórmulas do pequeno ecrã.

A história passa-se na pequena Cataguazes, no interior do Estado de Minas Gerais, no Brasil. É lá que se encontram fortuitamente, depois de muitos anos, Gildo e Luzimar, vividos magnificamente por Júlio Andrade e Irandhir Santos, respetivamente. Num ritmo de conversas aparentemente banais e ações fortuitas, o enredo vai inserindo o espectador nos espectros de um passado trágico.

Junto com a ideia de querer fazer um filme sobre pessoas de uma classe social pouco visitada pelo cinema brasileiro, desejei criar uma narrativa que fosse uma espécie de alforria da habitual maneira de narrar da TV”, explica Villamarim. “Mas, sobretudo, a vontade era dar subjetividade a essas pessoas que, em geral, quando são tratadas de forma excessivamente planas”.

Mas o alcance estético de Redemoinho vai além de mostra de virtuosismo e o vazio de projetos, especialmente primeiras obras, que contentam-se em autorreferências. “Eu não queria cair num exercício estilístico de fazer um primeiro filme com tempos e planos dilatados, sem um propósito claro. ‘Redemoinho’ tem trama, mas é um filme não de explosões e sim de implosões. Tão importante quanto a história são as transformações pela qual passam aqueles personagens num vertiginoso acerto de contas com o passado”, exemplifica.

Os atores, dois dos melhores do Brasil, ajudaram bastante a que o filme funcionasse. “Adoro o trabalho com os atores e gosto, sobretudo, quando eles tem a disponibilidade para o mergulho vertical na recriação do personagem que está no papel. De facto, Júlio Andrade e Irandhir Santos, embora ainda jovem, são dois monstros sagrados. Fiz um processo da preparação, mas o próprio ‘set’ de filmagem era vivo, ou seja, o argumento é seguido, mas sempre há espaço para um voo do improviso”.

Depois desta bela estreia o cineasta tem vontade voltar a fazer cinema? “Continuo trabalhando na TV porque é um veículo que eu tenho admiração e fascínio. Mas o cinema permanecendo sendo aquele amor adolescente e eterno. E mesmo ocupado, penso todos os dias no próximo. Ainda não tenho certeza de qual será, mas será e em breve”.

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