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Mariana Ximenes:«gosto de ousadia, de experimentar»

 

Mariana Ximenes começou aos 17 anos no circuito das novelas, e desde então tem apostando numa abrangente carreira, quer televisiva, quer cinematográfica. Em alturas do FESTin, a atriz, agora com 35 anos, esteve presente na capital portuguesa para apresentar duas obras distintas. A primeira, A Prova de Coragem, a sua experiência na produção, e o segundo, a cumplicidade com um dos nomes maiores do cinema autoral brasileiro, Ruy Guerra, em Quase Memória.

O C7nema falou sobre a criatividade no seu trabalho como profissional, e as obras que chegaram com algum entusiasmo ao público português.

Esta é a sua primeira vez em Lisboa?

Não, já estive mais vezes aqui em Lisboa, inclusive duas semanas em rodagem da longa-metragem de um realizador brasileiro maravilhoso e que fez História no Cinema, Cácá Diegues. O filme era O Grande Circo Místico, uma coprodução do Brasil, França e Portugal, contando com uma equipa maioritariamente portuguesa.

A Mariana é sobretudo uma “cara” conhecida das novelas da Globo, e esta sua faceta cinematográfica é praticamente desconhecida, por exemplo, para público português. Acredita que existe uma certa linguagem no pequeno ecrã que não existe, ou simplesmente não assiste, no grande ecrã?

Quando a Globo começou a produzir filmes, esse diálogo entre cinema e televisão se tornou cada vez maior. Mas por exemplo, começou a série Super Max, uma produção televisiva concretizada totalmente com uma equipa ditamente cinematográfica, ou seja, temos televisão sob moldes cinematográficos. Até um cameraman francês tivemos, este que usufrui do método “shoulder rigs“, uma técnica não muito vulgar em produções televisivas.

Sim, cada vez mais se debate entre Cinema e televisão, e sobretudo nos Festivais de Cinema (e como é bom vocês terem um festival de língua portuguesa) que proporcionam uma abertura maior para os filmes brasileiros.

Quase Memória

Referindo o FESTin, a Mariana encontra-se presente para apresentar dois filmes, inclusivamente a sua coprodução A Prova de Coragem. Quer falar-nos sobre essa experiência na produção?

Comecei a ser produtora para poder realizar os projetos que sempre sonhara fazer. Mas quanto ao A Prova de Coragem, na verdade, não é um projeto meu, nem sequer foi idealizado por mim, é sim fruto de Roberto Gervitz, e a adaptação de um livro dum escritor gaúcho chamado Daniel Galera. O livro chama-se “Mãos de Cavalo“, o filme era para ter o mesmo título, mas foi decidido intitulá-lo de A Prova de Coragem. Apesar de gostar do título original, porque simplesmente funciona como uma metáfora à coragem.

O filme aborda o drama da mulher contemporânea, que é o de ser mãe e conciliar com a carreira profissional, além de retratar o relacionamento e as dificuldades que existem numa relação de hoje em dia. Para este filme, cujo tema central é o montanhismo, tive que aprender a escalar, frequentei um curso e subi o Monte Babilónia, que fica no Rio. Foi um experiência fascinante, agora posso sim afirmar, que amo escalar.

Em A Prova de Coragem nós filmamos em locais bastante belos como a serra gaúcha. Da mesma forma que a minha personagem gosta de escalar, também tem uma paixão por fotografia, o que tem um certo relacionamento comigo, porque também tenho um curso de fotografia [risos].

Mas como nasceu essa decisão de virar-se para a produção?

Sou uma mulher que já fez mais de 20 filmes. Adoro fazer cinema … simplesmente adoro, e por causa disso comecei a produzir. A minha carreira enquanto produtora já conta com mais de 4 filmes, dois deles como produtora associada. No caso de A Prova de Coragem, sou produtora associada, e gostei de envolver-me nesse processo de criação, porque agregamos elenco, equipa, todos aqueles que sempre quisemos trabalhar. Tenho esse encantamento pela envolvência nos meus projetos, como se diz, gosto de “meter mãos à obra“.

A Prova de Coragem

Iremos ver num futuro próximo, uma Mariana Ximenes como realizadora?

Dirigir? Assim sozinha? Não tenho vontade, não. Sinto o desejo, e cada vez mais, de participar no processo criativo e o olhar de cada pessoa, tanto do diretor de fotografia, o de cinematografia, caraterização, figurino, de outro ator. Adoro o jogo, o de contracenar, assim como o de ambientes, o de criar espaços. Digo que sou bastante curiosa.

Diretor de fotografia? Está disposta a experimentar o cargo de direção fotográfica?

Diretor de fotografia? [risos]. Não sei se vou ser porque é um cargo muito difícil. Sou mais sentida na criação de diálogos e o que me interessa mesmo são os processos criativos.

Em relação ao segundo filme do FESTin, Quase Memória. Como foi trabalhar com o “lendário” realizador Ruy Guerra?

Uma aula. Diariamente. Não só uma aula de cinema, mas de vida. Ruy Guerra tem 80 anos e mesmo assim, possui muita energia. Para perceberes, nós filmávamos de madrugada.

De madrugada?

Sim, 12 horas de madrugada, no frio de Minas Gerais e ele estava ali, firme e forte. Foi um procedimento muito intenso. Aceitei o papel para ficar perto dele, é lindo de ver, ele com mais de 80 anos, filmando, fazendo o seu Cinema.

Quase Memória

Ruy Guerra estava ausente do Cinema por mais de 10 anos, a Mariana, de certa parte, faz parte desse seu regresso.

Sim, esteve fora por mais de uma década, que nem o Roberto Gervitz, o realizador do Prova de Coragem. Ele também estava 10 anos sem fazer um filme.

Fazer cinema é muito difícil, o de conseguir investimento e recursos para fazer um filme, não é tarefa fácil. Por isso, é louvável que um realizador tão renomado como o Ruy consiga investimento para poder filmar. Também me interessa projectos alternativos, como Super Max, por exemplo, que é uma experimentação. Gosto de ousadia, de experimentar, quando apostamos em projetos diferentes temos prosperidades de ampliar os olhares. Pode-se acertar como se pode errar, mas o risco está lá. O meu objetivo é aprender com o processo, como exercício de fazer.

Então, esta é a sua face mais autoral. Mas dentro da produção brasileira podemos encontrar obras de gostos diferentes, quer o mainstream da Globo, até ao cinema mais independente e autoral, como o do Ruy Guerra. O que a faz interessar-se por ambos os lados?

Menciono que A Prova de Coragem, assim como o Quase Memória são dois projectos diferentes e até estou querendo trazer os meus outros filmes para cá [risos]. Para termos a possibilidade de discutir isso mesmo, a diversidade da produção no Brasil. E isso é de valor, diversificar mais para podermos experimentar. Acrescento que Super Max, também, em certo jeito, é uma experimentação da Globo. Como já havia referido, sou completamente interessada nessas experiências, qual seja o lado que se possa experimentar.