Quinta-feira, 28 Março

Entrevista ao ator e realizador austríaco Karl Markovics

O grande público certamente o reconhece como protagonista de The Counterfeiters (Os Falsificadores), a obra vencedora de um Óscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira, ou do pequeno papel no êxito de Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste. Porém, Karl Markovics também se aventura numa jornada enquanto realizador. Depois do aclamado Breathing, tenta o seu segundo “shot” com Superwelt, um drama existencialista que reafirma o que de mais importante possuímos na nossa vida.

Essa obra encerrou a 13ª edição do KINO – Mostra de Cinema de Expressão Alemã em Lisboa, e o C7nema teve o privilégio de falar com Markovics sobre o desafio da realização, os novos projetos e a busca pela felicidade.

Como foi voltar à realização?

Quando realizei o primeiro filme, Atmen (Breathing), foi como nunca fizesse mais nada na minha vida. Foi como o se o filme conduzisse a mim próprio. Trabalhar num segundo projeto foi mais difícil, julgava que saberia mais sobre realização mas acabei por descobrir que sabia menos daquilo que pensava. Foi algo que me levou até aos meus limites.

Você também escreveu o argumento. De onde surgiu esta ideia e quais foram as suas influências?

As histórias aparecem-me da mesma forma que os estranhos surgem num lobby de Hotel. Eu observo-os com curiosidade e no final acabo por estar mais próximos deles. No caso de Superwelt foi simples. Observei uma mulher que se encontrava na caixa de um supermercado. Não havia clientes no seu balcão, e ela olhava para o vazio com uma estranha expressão como se estivesse a ouvir alguém. Cheguei a pensar para comigo que era Deus que estava a falar com ela. E se fosse Deus, eu a aceitaria como minha profeta.

Como foi trabalhar com a atriz Ulrike Beimpold, especialmente quando se tem uma personagem que se expressa tão bem através do olhar?

Ulrike é um milagre. Ela estava preparada como um computador, mas enquanto atuava parecia uma criança – inocente e pura. E como qualquer criança, ela precisava de imenso carinho. Mas obviamente, ela merecia.

Muitos procuram a sua felicidade, mas normalmente  “contentam-se com tão pouco”, citando uma das personagens de Superwelt. Acredita que existem muitas “Gabis” por aí? Pessoas que esperam escapar das suas rotinas como fosse “caminho andado” para a felicidade?

Nós procuramos o sentido da Vida. Mas quanto mais velhos ficamos, mais confiança perdemos de que existe realmente um.

Fez um filme sobre uma demanda espiritual, mas não de uma maneira religiosa. Tentou evitar este tema? É um homem religioso ou espiritual?

Eu queria fazer um filme para toda a gente, não somente para religiosos ou espirituais. Não consigo dizer se sou uma pessoa religiosa ou espiritual. Mas consigo dizer que existe algo mais do que aquilo que os cinco sentidos identificam.

Superwelt

Recentemente participou num filme checo sobre a atriz Lída Baarová. Como preparou para ser Joseph Goebbels no grande ecrã?

Estudei tudo sobre Goebbels. Nos dias de hoje é fácil graças ao Youtube. Mas é muito estranho estar tão próximo assim de uma personalidade. É quase esquizofrénico criar uma empatia por um dos maiores criminosos da História da Humanidade.

Também trabalhou com o realizador Erik Poppe. Pode dizer mais sobre esse filme e a sua personagem?

No ano passado estávamos a filmar o seu novo filme “Kongens Nei” (The King´s No). Eu interpretava o embaixador alemão na Noruega durante a ocupação alemã em 1940. O seu nome era Curt Bräuer, uma personagem muito ambivalente e, por isso, bastante desafiante. Trabalhar com Erik Poppe foi óptimo. Era bastante calmo e educado, mas sabia exactamente o que queria. Filmávamos com câmara de mão, longas sequências com o mínimo de shots, um pouco ao estilo do documentário. Para nós, atores, é ótimo, porque facilmente envolvíamo-nos nas cenas e tínhamos liberdade e espaço livre.

E quanto a novos projetos?

Neste momento estou a filmar um filme na Alemanha e preparar a minha primeira produção de ópera. Esta ópera ainda não está composta. O libretto é baseado numa história japonesa chamada “The Hunting Rifle” de Yasushi Inoue. Estreará em 2018 em Bregenz/Áustria.

Notícias