Sexta-feira, 29 Março

O homem como sexo frágil: entrevista com Duccio Chiarini, realizador de Idade à Flor da Pele

 

Estreava há quase um ano na última edição do Festival de Veneza, com lançamento nas salas portuguesas na última quinta-feira (16/07), uma insólita comédia que trazia alguns temas com abordagens bem pouco usuais – entre os quais a virgindade masculina e um insólito percalço físico a afligir o protagonista, a fimose.

O realizador de Short Skin, Duccio Chiarini, esteve em Lisboa no âmbito da última edição do Festival de Cinema Italiano e conversou com o C7nema sobre o seu filme, que narra a história dos percalços de um adolescente (Matteo Creatini) para perder a virgindade. Embora com aspetos cómicos, a abordagem passa longe de exemplares hollywoodianos sobre o assunto.

O tema da virgindade masculina é mais comum em comédias adolescentes, cujo objetivo é apenas fazer rir. Esse foi o ponto de partida para o seu filme? Por que decidiu abordar esse tema?

O ponto de partida do filme não foi a comédia, foi mais sobre a estranheza do sexo e a fragilidade do coming-of-age masculino. Isto porque os homens são sempre representados nesta área como seguros, do estilo “eu sei onde estou a ir”, enquanto as meninas são representadas como desastradas e tímidas quando o momento chega. Eu achava que tudo isso era falso e quando li uma graphic novel onde reparei que havia um tipo que ia ver um médico e era retratado de uma forma muito interessante.

Isto remeteu às minhas próprias memórias de adolescência e eu decidi trazê-las à tona, compará-las com as dos meus amigos, da minha irmã e todos as pessoas próximas que pareciam seguras sobre sexo. Então busquei essas memórias e tentei universalizá-las criando um personagem, misturando as histórias e enfatizando o tema da fragilidade sexual masculina.

 Acha que há um problema com isso? Como acha que os homens lidam com o tema da virgindade?

Mais do que a virgindade eu acho que o problema está relacionado com a presença do pênis, que desempenha um papel central na vida masculina. Ou, como alguém disse, “os homens comportam-se como seguidores do seu pênis”. Por outras palavras, não seguem o coração. A virgindade é a conclusão disto, mas o problema para mim não é esse, mas a relação com a sexualidade. Por outras palavras, o que acontece num mundo controlado pelo pénis quando este não funciona?

Você reforçou as dificuldades psicológicas do seu protagonista dando-lhe um problema físico. Este é um assunto muito pouco usual no cinema, a questão da fimose.

Sim, a ideia no desenvolvimento da história, a nível do plot, era utilizar a fimose como um gatilho para explorar algo maior, que está no interior. Sim, existe esse problema físico, mas na realidade isso faz com que ele descubra certas coisas que estão no seu interior.

Também existem algumas cenas explícitas. Acredita que pode haver problemas quando o filme for lançado? Como foi a reação em Veneza?

Em Veneza não houve problemas, penso que todos entenderam. Não é um filme provocativo. Ou seja, quando tu és teenager tu não te importas. É como a cena do polvo. Vem do desejo.

 E, de uma forma geral, como foi a passagem pelo Festival?

O filme foi realizado com o apoio da Bienalle College Cinema. É um workshop que todos os anos escolhe 12 projetos ao redor do mundo para desenvolvê-los. Depois três são escolhidos e recebem 50 mil euros para fazê-lo. Então tens nove meses para finaliza-lo. O filme estava sendo desenvolvido quando soubemos que estaríamos em Veneza. Era uma sessão pequena, mas cheia de público, cheia de interesse. No final fomos escolhidos a revelação do festival e isso foi fantástico.

O filme também questiona padrões de beleza pré-estabelecidos.

Sim. Eu penso q o processo de casting foi sempre fascinante. Elisabetta (Mariana Raschillà), por exemplo, é uma muito charmosa e sexy gordinha. Bianca é fascinante (Francesca Agostini). Quer dizer, ela é bonita, mas não o tipo de beleza do cinema norte-americano. O diretor de fotografia decidiu representá-los de uma forma muito naturalista, os corpos, a nudez.

Já tem novos projetos?

Estou trabalhando na ideia de um homem frágil nos seus 30 anos que esta a tentar decidir o que quer fazer da sua vida. Isto porque, a certa altura, por causa da insegurança ele sente que está perdendo do tudo o que tem, está sem rumo, a viver no sofá de amigos. É uma coming of very late age…

 

 

 

 

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