Quinta-feira, 25 Abril

Entrevista com Lula Buarque de Hollanda, realizador de «O Vendedor de Passados»


Buarque de Hollanda (à esq.), Alinne Moraes e Lázaro Ramos

O FESTin incia nesta quarta-feira (08/04) tendo O Vendedor de Passados como filme de abertura. Baseado na obra do escritor angolano José Eduardo Agualusa, o filme traz intriga e romance ao contar a história de um homem, vivido por Lázaro Ramos, que possui uma estranha profissão: reconstruir, através da imaginação e de recursos tecnológicos, um novo passado para os seus clientes. Tudo corre bem até entrar em cena uma misteriosa mulher (Alinne Moraes) que vai baralhar não só o seu presente como as suas prórias contas com a sua vida pregressa.

O C7nema conversou com o realizador do filme, Lula Buarque de Hollanda, aqui na sua segunda longa-metragem, que falou sobre as questões que a obra levanta e o trabalho com Lázaro Ramos.

Você tem uma experiência mais ligada ao universo musical. Como foi a sua entrada neste projeto?

Eu comecei a fazer cinema numa época que a produção de filmes estava totalmente paralisada por problemas políticos, nos anos 90. Meu objetivo sempre foi fazer ficção. Trabalhar com música foi muito bom porque é um lugar onde se pode experimentar, tanto em forma quanto em estrutura. Assim que acabei de ler o livro “O Vendedor de Passados ” fiquei com muita vontade de levá-lo para o cinema. Conversei com o Agualusa e propus adaptar o livro para o Rio de Janeiro, modificando o ambiente de Angola do livro original. Foi um processo longo, mas muito gratificante. Estou bastante contente com o resultado final.

A ideia original é muito interessante – e muitos escritores já se debruçaram sobre a forma como o passado e a memória condicionam aquilo que somos. Para você é essa a questão principal?

Estamos vivendo um tempo onde é difícil definir o que é a verdade. No mundo virtual tudo é possível. No filme, a questão da identidade é discutida em seus múltiplos aspectos. O personagem principal pode criar um passado para qualquer um de nós, inclusive para ele mesmo. Partimos desta premissa para discutir a vida contemporânea, pela forma como relações afetivas e familiares são afetadas pela possibilidade da modificar o seu passado.

Como face da mesma moeda, está a questão da orfandade, de não se conhecer a sua origem.

Esta foi uma das grandes questões discutidas no filme. Como criar passados para clientes se você não conhece a sua própria história? O tempo inteiro o filme trabalha com estes dois polos: a necessidade do Vendedor de Passados conhecer a sua própria história e o reflexo desta falta nos seus clientes.

 Como foi a entrada do Lázaro Ramos no projeto? Como funcionou o trabalho de direção de atores?

Desde o começo do desenvolvimento do roteiro o nome do Lázaro sempre foi o meu favorito. Eu propus para ele, e desde o primeiro tratamento ele acompanhou, lendo e comentando os vários tratamentos nos cinco anos que trabalhamos no projeto, tanto que ele é produtor associado do filme. Antes das filmagens, ficamos um mês ensaiando, fizemos várias vivências, improvisos, que foram sendo absorvidos pelo argumento final. Quando chegamos no set de filmagem, a intimidade com o personagem, a relação com o personagem da Alinne Moraes era completa. E acredito que está impresso na grande atuação do Lázaro.

O filme é acessível a um público mais alargado. Como é a sua expectativa em relação à estreia comercial no Brasil?

Minha intenção foi fazer um filme ao mesmo tempo denso e acessível, muito inspirado no cinema argentino, que consegue estabelecer muito bem esta relação entre uma boa história e sua comunicação com o grande público. A Imagem, distribuidora do filme, está apostando nele e vamos fazer um bom lançamento. A expectativa é a melhor possível.

 O Vendedor de Passados será o filme de abertura no FESTin. Qual é a sua espetativa em relação à receção do seu filme em Portugal?

Fiquei muito contente com o convite para a abertura do FESTin, imagino que muitos fãs do Agualusa tenham lido o livro e fico bastante curioso para ouvir a opinião de todos sobre a transposição da trama de Angola para o Rio de Janeiro.

Já tem novos projetos na área da ficção?

Meu próximo filme será a adaptação do livro do Chico Buarque “Leite Derramado”. O roteiro já está pronto, minha expectativa é filmar no fim de 2016.

 

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