Sexta-feira, 29 Março

Entrevista a Georgina Hayns, supervisora no laboratório de marionetas da Laika Films

Georgina Hayns, supervisora criativa no laboratório de marionetas da Laika Films, o estúdio por trás dos êxitos de Coraline, Paranorman e Os Monstros das Caixas, esteve em Lisboa no âmbito de um workshop sobre criação de marionetas na segunda edição do Festival Internacional de Cinema Infantil & Juvenil. O C7nema teve o privilégio de falar com uma das “mãos” por detrás destes mundos fantásticos que só a Laika Films conseguiu proporcionar-nos.

Primeiro que tudo, quais são os seus objetivos com este workshop?

É uma apresentação, porque um workshop demoraria horas para elaborar, para mim era difícil fazer isso. Portanto, eu exibo slides que demonstram a construção de Os Monstros das Caixas, o design e até a produção em torno do filme. Por isso eu espero que no final desta apresentação as crianças conheçam o trabalho que se teve na criação das marionetas de Os Monstros das Caixas.

É um processo complicado?

Sim e bastante moroso. Demora-se cerca de 3 meses em criar um boneco, e com 20 pessoas envolvidas.

Só para fazer os bonecos?

Sim, só para os bonecos.

E a animação?

Só em animar, e numa boa semana, consegue-se fazer 4 a 5 segundos [risos], mas serão precisos cerca de 20 a 30 animadores, todos a trabalhar em simultâneo, para conduzir uma animação fluida.

Então, um filme como Os Monstros das Caixas e Coraline quanto tempo demorou?

O Coraline demorou 3 anos. Os Monstros das Caixas dois anos e meio.

Mas o processo de animação desde Coraline até Os Monstros das Caixas não se tornou mais sofisticado?

Sabe, tornou-se mais sofisticado e nós temos utilizado tecnologia no tal processo de animação, mas cerca de 90% dos nossos filmes continuam a ser feitos à mão. Contudo, criamos as bases nos nossos computadores e tornamos a animação mais suave. Usamos perímetros em 3D nas ditas bases e aceleramos assim o processo. Mas grande parte do que vemos no grande ecrã, é feito à mão. Mas sim, utilizamos imagens geradas por computador nas ditas animações.

Então é como foi demonstrado no final de Os Monstros das Caixas? Essa cena é como se fosse uma paródia a isso?

O final de Os Monstros das Caixas é só um pequeno vislumbre do nosso “mundo”.

Consegue-nos explicar o que exatamente faz uma supervisora de animação?

O que eu faço para viver? Eu sou supervisora da construção das marionetas, por isso eu velo a criação de todas as marionetas para o filme. Nós fizemos 105 bonecos no Os Monstros das Caixas. Eu tinha ao dispor cerca de 65 artistas na minha equipa. Eles esculpem os bonecos, fazem os seus “esqueletos”, a sua pele, a cabeça, etc. No fundo nós fazemos as ditas marionetas.

Há algum momento na sua vida em que decidiu, por fim, que queria fazer marionetas?

Quando estava na escola, era muito boa em artes, adorava pintar, desenhar, fazer trabalhos manuais. Porém, nunca me foquei realmente em algo particular. Por isso decidi que queria utilizar todas estas minhas aptidões e reparei que fazer marionetas consistia em usufruir todas estas técnicas. Nesse tempo comecei a restaurar bonecas e o próximo passo foi mesmo construir marionetas. Então segui para a Escola de Cinema, estudei animação e fui parar à animação stop-motion.

E quanto a novos projetos?

Sim, há. Tem como titulo Kubo, é um conto do folclore japonês que nos remete à aventura de um rapaz. Trata-se de uma história que transmite bons valores. É de uma beleza gloriosa e situa-se no antigo e místico Japão.

Quanto à nomeação aos Óscares, tem esperanças de que Os Monstros das Caixas vença o prémio?

Sim. Foi tão bom estar nomeado. Aliás, todas os nossas animações em stop-motion foram nomeadas, mas ainda nenhuma conseguiu vencer. É fantástica a nomeação.

Notícias