Sábado, 20 Abril

Entrevista a Marco Horácio, o homem dos mil ofícios em «Mau Mau Maria»

O C7nema conversou com o humorista Marco Horácio, o qual demonstra em Mau Mau Maria, a nova comédia à portuguesa, que é um homem de mil ofícios, já que produziu, co-escreveu, protagonizou e ainda dirigiu o elenco. Contudo, e como salienta,o seu maior desafio é ser pai e um homem de família.

O que pode dizer sobre o seu personagem?

O meu personagem é o Pedro Maria Gonzaga, o mais velho de três irmãos. É um homem dividido entre a responsabilidade bíblica de tomar conta dos irmãos mais novos, desde muito cedo, evitando comportamentos impulsivos ou pouco racionais. Tornou-se num homem tenso em afetos, inexperiente e ingénuo no campo amoroso, algo que até ao ultimato do pai era o seu “lado negro da lua”.

Como surgiu a ideia para este filme?

A vontade existia há muito tempo, mas a capacidade a maturidade foram sendo adquiridas com os meus 20 anos de carreira. Houve uma conjugação de fatores que precipitaram a necessidade de fazer este filme: uma má experiência anterior; uma equipa muito motivada e com um talento incrível, espírito de sacrifício e sedenta por “mostrar serviço” no cinema português; e, acima de tudo, o acreditar de três investidores que sem conhecerem o guião acreditaram cegamente numa ideia.

É difícil fazer comédia em Portugal? Ainda mais no cinema?

É difícil viver em Portugal. Esta é a realidade. Vivemos num país onde a cultura é cada vez mais “dispensável” e “desnecessária”. Um país onde o lobby continua a ganhar os subsídios e o teatro, a dança, a música e, por consequência, os artistas vivem das bilheteiras. E o cinema tem, muitas vezes, que ser autofinanciado para existir. Portanto, qualquer forma de arte em Portugal, hoje em dia, é um risco pessoal e muito complicado de gerir.

Relembra-se e compara-se muito qualquer tentativa de comédia cinematográfica nacional com a idade de ouro do cinema português. Vai ser difícil superar esses tempos? Será que Portugal está preparado para seguir em frente em relação a essas memórias?

Continuamos a lembrar o feito dos navegadores portugueses e as conquistas além mar, sabendo que não vamos nunca superar estas conquistas. Por mais artistas talentosos e pessoas capazes de arriscar/de inovar que Portugal tenha, existirão sempre os velhos do Restelo para quem tudo é inferior ou pouco digno. Vivemos presos a um passado socialmente, culturalmente e politicamente intenso e marcante, mas da mesma maneira que a tecnologia evolui, também as mentalidades devem evoluir e acompanhar os tempos. Vivemos presos a um passado que nos impede e turva a visão do futuro.


Vitor de Sousa e Marco Horácio

Nos tempos que vivemos, onde o feminismo volta a ser assunto do dia e que o papel da Mulher no Cinema é constantemente questionado e avaliado, não existe atualmente um certo receio em abordar os estereótipos femininos, mesmo que a desculpa seja a comédia? Já agora, qual é a sua opinião acerca deste movimento?

Começo por dizer que a mulher é, para mim, a “criatura” mais enigmática e inteligente que vive entre os humanos. E digo isto com admiração e respeito por todas as Mulheres.

A mulher, no passado e no presente, tem vindo a desempenhar um papel fundamental em áreas como a Cultura, a Política e na sociedade mundial. Jaqueline Kenedy, Frida Kahlo, Cleopátra, Anita Garibaldi, Joana D’arc, Boadicaia ou, mais recentemente, Angela Merkl, Hillary Clinton ou mesmo a Lady Gaga. Qualquer movimento, na minha opinião, faz sentido desde que promova a igualdade, a oportunidade e o direito a uma vida digna.

Acho que a mulher não precisa de um “movimento”. A sociedade atual é que tem de mudar a forma de olhar a mulher.

O que pode dizer sobre próximos projetos?

Os meus próximos projetos passam por refletir sobre o resultado deste filme e daí retirar a minha conclusão e a minha vontade para o futuro. Sou um homem que vive da satisfação pessoal e profissional que os projetos me dão e acima da forma como estes projetos podem influenciar o bem-estar das famílias.

Depois desta experiência cinematográfica, o que prefere; Cinema, Televisão ou Stand-Up Comedy?

O que prefiro é ser pai. A família tem um papel fundamental na minha vida e é a única coisa que tomo como garantida e pela qual vale a pena viver, trabalhar e arriscar. Deixar um legado artístico e humano é o que me move.

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