Sexta-feira, 19 Abril

Laços de Sangue: à conversa com Clive Owen e Guillaume Canet

Clive Owen é o tipo suave e simpático; dificilmente o imaginaríamos a dar um trio a uma criança. Pois bem, é o que sucede em Laços de Sangue/Blood Ties, o remake da versão francesa Laços de Sangue/Liens du Sang, em que o ator Guillaume Canet decidiu passar para trás das câmaras. O resultado é uma amálgama com os vícios de uma co-produção com meios, mas em que nem tudo corre bem. Mas está aí para ver… Em Cannes do ano passado encontramos-nos com a dupla numa mesa redonda.

Clive, a sua personagem é interessante. Tem facetas diferentes; é capaz do melhor e do pior. Foram esses contornos que mais o seduziram?

Clive Owen – Sim, foi isso. As pessoas nunca são apenas uma cosia. Ele é um assassino e faz coisas terríveis no filme. No entanto, tem uma faceta curiosa, pois procura sempre o lado mais frágil. Acho que essa é a tarefa do ator. Temos de tentar mostrar algo mais. A beleza é a complexidade da relação das personagens.

Foi também essa a sua intenção ao fazer o remake do filme francês?

Guillaume Canet – Sim, fiquei fascinado pelas personagens. E foi ao ler o guião na versão francesa que me interessou realizar o filme. Nesse sentido, gostei de fazer o filme em França, até porque foi bem recebido nos Estados Unidos. Daí ter recebido várias ofertas de estúdios para fazer filmes na América. Mas eram sobretudo projetos de grande orçamento, como O Turista, com Angelina Jolie e Johnny Depp. Mas ainda bem que não aceitei… (risos) Queria que o meu primeiro filme inglês fosse com material que eu conhecesse bem. Foi assim que acabei por fazer este remake. É quase uma tragédia grega.

Como foi o envolvimento no projeto de James Gray (co-assina o guião)?

Trabalharam juntos?

GC – Quando tomei essa decisão, falei com o James, pois precisava de ajuda para uma adaptação em Nova Iorque. E ele aceitou, o que foi ótimo. Tivemos um período de trabalho em conjunto que ajudou muito.

Este é um filme de irmãos. Clive, até onde seria capaz de ir por um irmão?

CO – Eu tenho quatro irmãos. Mas acho que a força do guião é mostrar que Chris (a sua personagem) não tem saída para o seu destino. A ideia de que não podemos fugir ao sangue na nossa família é algo muito poderoso.

Guillaume, porque escolheu o ambiente dos anos 70?

GC – O filme baseia-se numa história verídica, dos irmãos Papet (Bruno e Michel), que ocorre nos anos 80, em França. Mas como na Europa costumamos dizer que estamos 10 atrasados relativamente aos EUA, achei que essa diferente seria justificada. (risos) Mas não é a razão correta. Achei que era interessante manter a histórias no passado, e como sou grande fã de música, achei que o som dos anos 70 seria mais adequado ao filme do que os anos 80. Por outro lado, também sou um grande fã do Cassavetes e do look dos seus filmes.

Esta é uma grande co-produção, com várias estrelas de diferentes nacionalidades. Foi muito difícil orquestrar tudo isso?

GC – O que foi bom, apesar de ter sido difícil, é que sou muito comunicativo durante a rodagem. A mim ajudou-me ser determinado e ir direto ao assunto.

Já conhecia o Guillaume, Clive?

CO – Não, não o conhecia bem. Mas já tinha visto o filme “Pequenas Mentiras Entre Amigos” e gostava da energia dele. Na verdade, este projeto começou com um telefonema do Alfonso Cuarón, a sugerir este projeto com o Guillaume.

GC – Aliás foi devido a ele que eu fiz o filme.

Guillaume, foi difícil convencer a Marion (Cotillard) para entrar no filme?

GC – Não, foi fácil. Ela leu o guião e disse logo que sim. Eu conheço-a bem e sei que não faria o filme se o guião não lhe interessasse. E sabia o que ela poderia dar naquele papel.

Diz isso porque vive com ela?

GC – Não trabalhamos juntos porque vivemos juntos; trabalhamos juntos porque gostamos do que fazemos. Mas ela gosta de levar a sua personagem até ao limite. É muito profissional e generosa. Gosto muito de trabalhar com ela. Dá tudo e confia totalmente em quem a dirige. Tive muita sorte.

Clive, a sua personagem é muito rude para a Marion. Não receou o olhar do Guillaume?… (risos)

CO – Em que cena? (risos)

Humm… Na cena de sexo?… (risos)

Não houve queixas de ninguém… (risos)

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