Sendo à primeira vista uma espécie de A Loja dos Horrores rendida a neons, Little Joe esbarra concretamente na parede da sua criatividade limitada.

É uma obra que deve demais a um imaginário já estabelecido no cinema de género, desde o antagonismo da modificação genética passando pela possessão digna de um capítulo Body Snatchers.

Jessica Hausner determinada em sair dos amores loucos e da teatralidade do romance projetado de Amour Fou (2014), abordagem fora do vulgar em jeito biopic do jovem poeta Heinrich, regressa ao estilo inconformado dos seus primeiros filmes, nomeadamente Hotel (2004), para novamente cavalgar nas ondas do terror psicológico e de percepões. Little Joe é o nome atribuído a uma planta criada em laboratório, em fase de testes. Planta essa, que é concebida a fim de produzir feromonas capazes de dar ao seu portador humano a felicidade desejada. Contudo, esses sentimentos são apenas produções sintéticas, e a experiência começa a correr mal, quando os resultados revelam efeitos inesperados e indesejados.

Hausner insere-se em território dos “first world problems” (“problemas de primeiro mundo“) para tentar estabelecer uma reflexão alegórica sobre a noção de felicidade nas sociedades atuais e globalizadas, pelo que facilmente cede ao hipotético cinema de género, um terror emoldurado e ao mesmo tempo imparável com travellings estéticos, apresentando o movimento que as suas personagens não possuem devidamente. A austriaca tem uma noção visual e sobretudo sonora para a condução do seu “conto de terror”, mas na questão do som, a banda-sonora associada ao estilo do teatro kabuki com pertinentes e manipuladoras melodias de shamisen e estridentes flautas, auferindo uma atmosfera facilmente dissipada e em consequência a rasgos incomodativos.

Little Joe seria facilmente um projeto identificável dentro do cinema de distopias a frio de Yorgo Lanthimos, nem que seja pelos perversos maneirismos que os atores emanam de forma a solidificar a ideia de uma busca inerente pela satisfação. Será a felicidade um factor a ser adquirido ou simplesmente um efeito genuíno da nossa própria concretização?