Quinta-feira, 25 Abril

«A Kid Like Jake» (Uma Criança Como Jake) por Ilana Oliveira

De maneira a nunca se comprometer abertamente com aquilo que conta, A Kid Like Jake traz-nos a história do menino Jake, uma criança não-conformista de género, a partir do ponto de vista dos seus pais que sofrem para adaptarem-se à rotina do filho em meio à sociedade.

Silas Howard, encarregado da realização desta longa-metragem, possui uma carreira pautada por episódios em séries para televisão, sendo o primeiro realizador transexual de Transparent, série da Amazon Studios, e possui apenas mais uma longa-metragem no currículo, By Hook or By Crook, também dentro da esfera LGBTQI, na qual ele protagoniza como a personagem drag-king Shy.

Entretanto, a escolha de Howard do retrato a partir do ponto de vista dos pais Alex e Greg Wheeler, interpretados por Claire Danes e Jim Parsons respetivamente, cria uma das maiores dificuldades de toda a trama: não chegamos a realmente conhecer Jake. O que se tem entre todas as discussões familiares ou lutas internas de quebra de paradigmas sociais, são visões esparsas de uma criança que simplesmente adquire um comportamento rebelde e inquieto a partir do julgamento alheio.

O crescimento de tensão é bem interpretado por Danes, mas ao conhecermos o lado dramático de Parsons, percebemos uma forte dependência de trejeitos e manias presentes em seu trabalho mais reconhecido, Sheldon Cooper, na série cómica The Big Bang Theory, o que afasta-nos da trama e descredibiliza todo o potencial dramático de seu personagem.

Presente como a diretora de escola Judy, Octavia Spencer também não desenvolve um de seus trabalhos mais originais, e acaba por trazer mais do mesmo, além de ser uma das maiores vítimas do guião, que avidamente procura por justificativas rasas para criar tensões superficiais e facilmente ultrapassadas.

As escolhas de realização também não superam em nada a trivialidade e a fórmula água com açúcar do “fazer emocionar”, e aborda de maneira medrosa a sua trama central, fazendo com que a reflexão de seu projeto não atinja o nível do espectador, que de maneira nenhuma consegue identificar-se, ou até mesmo querer o bem, do seu protagonista.

A sua dependência e desenvolvimento em clichés de diversos níveis, fazem de A Kid Like Jake um filme esquecível e não capaz de enviar a sua mensagem, que assim adquiriria um papel mais relevante diante da importância do seu tema central.


Ilana Oliveira 

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