Tal como no anterior Get Out, Us é um filme sobre o medo incutido na sociedade que vivemos atualmente. As claras alusões aos eventos mediáticos no nosso tempo parecem ser acolhidos num produto que desesperadamente tenta ser série B, mas a confiança de Jordan Peele após o sucesso da sua primeira longa-metragem leva-nos a um objeto dependente da indústria onde se insere.
Prometiam ser umas férias em família num paraíso qualquer, mas torna-se automaticamente num pesadelo com a chegada de um estranho grupo que lhes invade a casa. Por mais estranho que pareça, estes invasores são versões sádicas deles próprios, sujeitos que se autoproclamam como “Nós“. As evidências são claras, Peele cede ao seu intelecto cinéfilo que recita todo um contingente de obras à mão. Nada contra às referências, mas ao incuti-las como brindes perante a inaptidão de um enredo que se desenrola nos jump scares “limpinhos” e nos plot twists (sendo que o ‘final” já se adivinhava a léguas e não faz qualquer sentido para a narrativa).
Encontramos Funny Games salteados por aqui, um Romero e os treinos básicos para o seu Twilight Zone, a estrear brevemente na TV. Us é, fora esses exercícios contidos, um filme que se pavoneia perante a sua “astúcia” ou a carência desta, no preciso momento em que se explica totalmente não dando ao espectador a vontade de interpretar as próprias imagens, como havia sucedido com Get Out
Claramente que apontamos aqui, neste díptico, um renascimento do cinema de terror negro, que anteriormente era visto como negligenciado e marginalizado na nossa indústria. Tendo como impulso a era do blackexplotation nos 70, que curiosamente garantiu-nos versões negras de Frankenstein ou Drácula (ou Blackula), a personagem do negro no cinema de terror ganhou sobretudo legitimidade com o protagonismo em The Night of Living Dead, de George A. Romero, isto após anos e anos de secundarização. Contudo, essas personagens raramente vingaram numa indústria dominada maioritariamente por brancos, sendo que as escassas invocações no cinema de género nunca concretizaram o sucesso comercial [(re)descubram Tales from the Hood, de Rusty Cundieff, de 1995].
Jordan Peele, em conjunto com o produtor em ascensão Jason Blum, conseguiu tal feito com Get Out e Us segue o mesmo caminho. Mas as boas intenções não fazem filmes e esta segunda obra, mais pretensiosa que a anterior, apenas quer ser o mesmo filme que tanto critica: um objeto fácil, quer na planificação, quer nos elementos inseridos, ou no medo de sujar as mãos, que vinga apenas pela dualidade de Lupita Nyong’o (o seu melhor papel) e pelo eterno conflito de Peele em tornar-se um autor de género, nem que para isso replique, como se pode ver aqui, alguns gestos de Hitchcock.
 
Pontuação Geral
Hugo Gomes
André Gonçalves
Jorge Pereira
José Lopes
us-nos-por-hugo-gomesTal como no anterior Get Out, Us é um filme sobre o medo incutido na sociedade que vivemos atualmente. As claras alusões aos eventos mediáticos no nosso tempo parecem ser acolhidos num produto que desesperadamente tenta ser série B, mas a confiança de Jordan...