Sábado, 20 Abril

«Un Peuple et Son Roi» (Uma Nação, Um Rei) por Ilana Oliveira

Mais uma vítima da síndrome de Victor Hugo, a nova longa-metragem de Pierre Schoeller – o mesmo realizador de Versailles – tenta demonstrar de maneira didática a trajetória de queda do rei absolutista Luís XVI da França até sua decapitação em praça pública na guilhotina. Do ponto de vista do povo engajado e dos nobres da Assembleia Constituinte, Un Peuple et Son Roi falha na extensiva carga dialética e na transformação em um “Les Misérables” wannabe.
 
O guião, recheado de diversos núcleos construídos a partir das “personagens” da revolução francesa, perde-se nos seus imensos diálogos comprometidos a contar aquilo que já havia sido contado diversas vezes antes, e de maneiras bem melhores.
 
Não é o seu elenco também que o salva, já que temos aqui um Gaspar Ulliel com o potencial de sempre, mas que é agraciado com uma personagem que se encontra por demais perdido e sem falas, fazendo com que suas caras e bocas sejam subutilizadas pela trama indecisa para decidir quem tem o seu papel principal. 
 
Adèle Haenel, por outro lado, consegue demonstrar a sua força e vontade de mudança, representando muitas das mulheres da Revolução Francesa. Ela mesma, entretanto, é uma personagem que já foi vista diversas vezes diante da vulgaridade destes desenvolvimentos de persona. São muitos deles e nenhum deles contém um raio de originalidade sequer. 
 
Perdido dentre eles encontra-se também Louis Garrel no núcleo mais enfadonho de todo o enredo. Por parte dos responsáveis da Assembleia Constituinte e, futuramente, parlamentaristas, temos minutos intermináveis de discursos que não conferem nenhum elemento de surpresa, já que conhecemos a história real, e que não se sustentam em conteúdo, visto que resumem uma tentativa do realizador em apenas definir a passagem de tempo. O resultado é que o espectador não se liga de maneira nenhuma à história que é contada.
 
Por fim, o pouco tempo de cena do rei Luís XVI e seu trágico fim, retratado com grande desprendimento emocional – quase que numa cirurgia sem medo de morte – acabam por afastar ainda mais o espectador que já naquele momento procura avidamente o relógio para ver as horas e sair de uma aula de história dada por um professor entediante e repetitivo. 
 
Ilana Oliveira

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