Quinta-feira, 18 Abril

«Support the Girls» (Ajudem as Miúdas) por André Gonçalves

É ao som do country de Cowboy Up de Annie Bosko sobre uma auto-estrada anónima, e de uns créditos coloridos personalizados que chegamos a esta nova obra de Andrew Bujalski (Mutual Appreciation), um dos pais do chamado mumblecore, um subgénero do cinema independente norte-americano focado em jovens adultos e dando ênfase ao diálogo acima da narrativa. 

Support the Girls acaba assim por ser discretamente uma das obras mais potentes na hora de levantar a voz contra este capitalismo tardio. O cenário é um típico “bar de desportos com curvas” texano, ou seja, uma alternativa familiar a outros hedonismos machistas. Aqui, a clientela, sob a desculpa de visionar a sua equipa ou atleta favoritos, pode aproveitar para galantear as raparigas, que aparecem apropriadamente em uniformes feitos à medida do propósito do espaço. Dito isto, existe uma política de tolerância zero face ao assédio às empregadas. É então neste cenário frágil que a ação deste filme decorre.  

No centro da ação está Lisa, a gerente deste bar, que está a ter o pior dia da sua carreira. Primeiro, depara-se com um intruso especial, e depois terá que justificar uma angariação de fundos via lavagem de carros ao seu chefe. Pelo meio, há outros incidentes que vão testar a sua paciência. Bujalski foca-se então nesta dinâmica “um dia na vida de” contando com o coletivo talentoso de mulheres dando a oportunidade única a Regina Hall (Scary Movie) finalmente mostrar que é mais que uma máquina de gargalhadas fáceis aqui bem complementada por Haley Lu Richardson (Columbus) e Shayna McHaley, nos papéis de empregadas mais próximas.    

O realizador e argumentista opera perante diálogos sempre interessantes, que vão sempre servindo de motor do que se vai passando à volta, e que vão aqui e ali revelando o mínimo possível para criar uma relação cumplicidade fascinante com este ambiente, tão raramente retratado de uma forma imparcial, e de certo modo justa com todos os intervenientes (o diretor que pensa na sua reputação; o bom empregado que calha ceder à tentação, …). 

É uma América pós-#MeToo, que acaba por reforçar a imagem que a luta pelos direitos das muheres é muito bonita quando se tem uma escapatória fácil, i.e. quando se tem mais privilégio… Support the Girls é assim um filme-coletivo verdadeiramente focado neste grupo contra o mundo, o sistema, o que se quiser chamar – num grito infrutívero em direção ao vazio como única alternativa. Quem nunca? 

 

André Gonçalves

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