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«Le Brio» (O Poder da Palavra) por Jorge Pereira

Adiado constantemente em Portugal, o filme francês Le Brio, de 2017 (até já tem o seu remake americano marcado), chega finalmente aos nossos cinemas com mais uma história em que costumes, hábitos e interesses culturais entre duas pessoas colidem para no final chegarmos a conceitos de aprendizagem mútua, aceitação e reconciliação (das personagens e das classes).

De um lado temos o veterano Daniel Auteuil no papel de um professor conhecido pelos seus preconceitos e arrogância. Um “facho”, muitos diriam, um instigador e provocador cujo objetivo é a evolução do conhecimento, diriam outros. Do outro lado da barricada temos Camelia Jordana como Neïla Salah, uma jovem dos subúrbios de Paris que tenta fugir aos estereótipos no seu desenvolvimento pessoal. No meio de lugares comuns, racismo incrustado e implantação da meritocracia sem olhar à igualdade de oportunidades – que não existe efetivamente para grande parte da população (não afeta só as minorias) – o duo vai ter de unir esforços para participar num concurso académico de retórica em que Jordana representa a Faculdade e Auteil terá de a preparar para isso.

O maior problema de Le Brio – mais uma espécimen do cinema social francês atual, que vive num regime de fábulas a passar mensagens de tolerância – é toda a previsibilidade de uma narrativa extremamente linear e sem desvios ou variações que nos conduz de A para B e para C na mais vulgar das caminhadas. Auteuil e Jordana, juntamente com os seus diálogos, conflitos e interações (muitas vezes silenciosos), são o melhor que o filme tem para oferecer, realçando-se alguns momentos do texto, verdadeiramente inspirados, que nos permitem prosseguir interessados na ação, mesmo sabendo como e quando tudo vai acabar.

Na essência, Le Brio tem consciência da sua forma crowd pleaser e joga com ela de maneira comercial sem ter medo que o espectador sinta uma forte improbabilidade no desenlace. É um filme que quer deixar-nos bem com o mundo, passar mensagens de multiculturalidade, integração social e cultural, transmissão de conhecimentos e beleza da linguagem.

Tudo bonito, tudo um retrato da sociedade atual, da França separada em dois, mas igualmente tudo dentro da ilusão superficial da “fé na humanidade restaurada” para vender bilhetes como quem vende “likes” nas redes sociais.


Jorge Pereira