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«Triple Frontier» (Operação Fronteira) por Jorge Pereira

Nos primeiros momentos deste Triple Frontier (Tripla Fronteira) somos confrontados com dois mundos diferentes em pleno combate numa pequena cidade sul americana. Aí, tal como em Black Hawk Down ou em qualquer filme dos EUA sobre a Guerra do Vietname, vemos a chegada do operacional Oscar Isaac num helicóptero ao som de Metallica e o explosivo “From Whom The Bells Tolls“, isto enquanto se sobrevoa uma cidade amontoada e desordenada. Ele vai juntar-se a um grupo de agentes da lei que vai invadir um espaço onde estão vários traficantes.

No lado dos criminosos, ecoa o tema “Caderas” dos Bomba Stereo. O tom pesado da banda norte-americana entra em contraste completo com a sonoridade “electro vacilón”, “electro tropical” ou “cumbia psicodélica” da banda Colombiana. Agentes operacionais obscuros e narcotraficantes colidem numa imersão de violência, onde não faltam ações para além da lei (tortura e assassinatos incluídos), não muito diferentes dos velhos ataques a fortes medievais, filmes do faroeste ou golpes de mercenários..

E é importante mencionar o tom de Western em modo tropical deste Triple Frontier – até na escolha de planos, de locações (ai, aquele desfiladeiro) -, filme que tanto vai beber a clássicos como O Tesouro de Sierra Madre, como a Narcos, como ao estilo “heist” citadino ou até no deserto, como na comédia dramática Três Reis.

Desse assalto à fortaleza (que na verdade é uma discoteca com ar de “bar dançante” da província), descobre-se a localização do líder dos narcotraficantes, o qual está escondido no meio da selva brasileira com vários milhões de dólares escondidos, pois hoje em dia, quem é que acredita nos bancos?

O plano começa então a ser delineado, mas não se espere uma incursão ilegal, mas patrocinada de forma institucional ao estilo Sicario, mas antes um roubo à antiga preparado pela personagem de Oscar Isaac juntamente com mais quatro antigos colegas das Forças Especiais (Ben Affleck, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal), cada um com outras profissões e  cada um com mais ou menos desalento com a vida  (Affleck tem a personagem mais espessa). 

O resto é a típica história de homens cujos planos não correm exatamente como esperavam, sendo necessário sobreviver e escapar a novas contrariedades atrás da “linha do inimigo”. É aqui que o cinema J.C. Chandor, tal como nos seus filmes anteriores (Margin Call, A Most Violent Year), entra pelos caminhos habituais da viagem à psique e aos valores morais de homens sobre pressão (Quando Tudo Está Perdido, outro exemplo do cinema de Chandler), volvendo a temas como a ganância e a ética.

Nisto, Triple Frontier é um filme relativamente denso, energético e imprevisível na sua essência, mas peca por ser extremamente derivativo e por não saber transmitir todo um espectáculo cinematográfico como se sentia que podia fazer. E embora nunca seja aborrecido, descompensado ou desconcertado no balanço entre ação e introspeções morais,  e de Chandler – mesmo sem brilhar – demonstrar uma boa consistência na sua carreira, Operação Fronteira é essencialmente apenas mais um num género cada vez mais prolífero no Cinema e TV, não conseguindo assim se destacar diante deles.

No final, é inevitável a pergunta. Como seria este filme se tivesse sido assinado por Kathryn Bigelow (Ruptura Explosiva; Estado de Guerra) ou José Padilha (Tropa de Elite; Robocop), nomes que estiveram ligados ao projeto em diferentes fases de uma conceção atribulada e em que se falava que o filme seguiria “a lavagem de dinheiro e as atividades criminosas, logo após o 11 de setembro, no espaço primordial da tripla fronteira entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina, onde o rios Iguassu e Paraná convergem“?


Jorge Pereira