“Lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: — há, sim, maus cultivadores.”  É com uma frase de Victor Hugo que Kheiron abre a sua segunda longa metragem, um projeto repleto de boas intenções e grande humanidade, mas que procura de forma forçada e rocambolesca ser uma lição de vida onde não faltam fartas doses de sacarina cinematográfica.

A frase de Victor Hugo, que até podia ser do pensador e poeta Ralph Waldo Emerson, que um dia questionou “o que é, afinal, uma erva daninha senão uma planta da qual ainda se não descobriram as virtudes?“, não se implanta apenas neste Mauvaise Herbes, mas em grande parte do cinema francês recente. Quase totalmente absorvido na sua faceta mais comercial em obras de cariz social e de integração, os gauleses insistem (enquanto render no box-office) no reaproveitamento das suas gerações suburbanas, normalmente conotadas ou obrigadas a vidas discriminadas e estereótipos sociais, reflexo de um crescimento de bairros sociais não planeados convenientemente que levaram à criação de guetos.

Neste caso seguimos a história Waël (Kheiron), um jovem dos subúrbios de Paris, que juntamente com Monique (Catherine Deneuve) vive de pequenos golpes. Numa das suas artimanhas, o duo dá de caras com Victor, um velho amigo de Monique (André Dussollier), que cuida de um centro de crianças desfavorecidas e problemáticas. A certo ponto, a dupla vê-se obrigada a trabalhar para Victor, descobrindo Wael a sua vocação e Monique uma antiga chama amorosa.

Viajando entre o passado de Wael num Líbano em guerra e o presente nos subúrbios franceses de uma juventude em fúria, Mauvaises Herbes é como se Capharnaum, Mentes Perigosas e 9 Rainhas fruíssem num filme só, primando – ainda assim – por um sentido miserabilista do enredo e uma manipulação emocional (a banda sonora, a escolha de planos, a montagem) para nos dar uma lição sobre magnanimidade com pitadas de romance e comédia.

Nisto, o próprio trio de protagonistas não acrescenta nada para além do seu nome e carisma à história, mantendo-se o filme totalmente focado na sua componente “feel good“, entre o sentimentalismo e a malícia (há bons momentos de humor), mas sem qualquer incursão profunda no complexo universo em que se foca para além de um toque na “flor da pele” tão típico do cinema comercial.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
mauvaises-herbes-ervas-daninhas-por-jorge-pereiraUm filme feel-good entre o sentimentalismo e a malícia.