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«Sons of Dennmark» por Jorge Pereira

Apesar de nunca se largar a sensação de estarmos a assistir a algo escrito e realizado para o pequeno ecrã por um cineasta em estreia que demasiadas vezes tropeça no óbvio e nos lugares comuns, Sons of Dennmark tem pertinência política e social. E tem, não só pela inflexão da extrema direita em todo o mundo, como particularmente na Europa, e neste caso na Dinamarca, regida atualmente por uma coligação centro direita, onde se inclui o Partido Popular (de extrema direita), e que alguns descontentes dessa coligação formaram o ainda mais radical e extremista Nye Borgerlige (A Nova Direita), que em 2019 pode chegar ao Parlamento.

O filme começa em 2024 com um atentado a bomba em Copenhaga a ceifar a vida a 23 pessoas. Um ano depois, um partido de extrema direita populista – que culpa os imigrantes de basicamente tudo – tem grandes hipóteses de chegar ao poder, enquanto um grupo miliciano que se descreve como “Filhos da Dinamarca” executa uma série de ataques contra os estrangeiros. O ódio gera ódio, já o tínhamos visto no filme dos anos 90 de Mathieu Kassovitz, e aqui o resultado é similar, com a polarização dos extremos, aproximando-se o filme de algumas das ideias que vimos em Os Filhos do Homem, em especial no prólogo.

Concentrando-se nos dois lados da barricada, Sons of Dennmark foca-se primeiramente nos imigrantes, que por sua vez respondem com ações também elas violentas, numa verdadeira bola de neve de violência. Porém, e a certo ponto, o realizador e argumentista Ulaa Salim reorienta o seu foco após uma reviravolta a meio da história, escorregando por diversas vezes no seu guião na simplificação emocional dos procedimentos policiais e na mensagem padronizada dos dois extremos, enquanto também não consegue desconstruir para além da superficialidade as ambiguidades da personagem de Malik (Zaki Youssef), um policia de origem muçulmana.

Por todas estas razões, e apesar da urgência do tema e de boas prestações dos atores, Sons of Dennmark é demasiado raso na abordagem, um folhetim em jeito tablóide, faltando assim uma profunda reflexão sobre o ódio e as suas motivações para além dos clichés.


Jorge Pereira