Quinta-feira, 28 Março

«The Upside» (Novos Amigos Improváveis) por Jorge Pereira

A necessidade de refilmar o filme francês de 2011 Amigos Improváveis era tão grande como o desejo dos estúdios americanos em conseguirem uma bela soma monetária de mão beijada.

O filme francês, que solidificou François Cluzet como uma das estrelas maiores do país, e transformou Omar Sy num astro de impacto imediato até exportável (X-Men, Jurassic World), contava a história de um tetraplégico branco, rico e culto que contratava um cuidador negro, desempregado e dos bairros dos subúrbios. Entre os dois nascia uma amizade, uma aprendizagem mútua e um choque de costumes entre dois mundos díspares. Com isso nascia também um crowd pleaser emocional (mas não meloso) que se tornou um dos maiores sucessos de sempre do cinema francês em termos internacionais, e que reorientou a produção gaulesa para uma verdadeira enxurrada de comédias sociais.

Anos depois, chega este remake essencialmente igual ao original, trazendo para o elenco um Bryan Cranston à procura do sucesso nos pós Breaking Bad e um Kevin Hart habituado a comédias construídas em torno de si com resultados de bilheteira satisfatórios.

Poderíamos divagar pelas maiores qualidades deste filme americano, mas seria redundante pois elas vêm do filme original. Nenhuma das cenas ou até novas situações encenadas ganha um novo alento nesta cópia, enquanto os atores não acrescentam igualmente nada. No meio disto tudo, perde mais Nicole Kidman, completamente desaproveitada e entregue a um papel de adereço que Audrey Fleurot traduziu melhor com sua Magalie no filme de 2011. E em tempos de #metoo, até as piadolas em jeito de piropo que a personagem de Sy lhe fazia no primeiro, não passaram para a versão americana. Óbvio, claro.

E se Cranston está em modo automático, razoável, mas inferior a Cluzot, é estranho dizer que Hart acaba por ser o que de melhor há por aqui, pois ao contrário de Omar Sy, que se repetiu constantemente nos filmes que sucederam na sua lista, o norte-americano reiventou-se de certa maneira, deixando de lado aquele modo de fazer comédia pateta sempre igual, assumindo aqui um tom mais recatado, seguro e até dramático, longe dos registos espampanantes e excêntricos habituais.

Por tal, e como Neil Burger se limitou a imitar na maioria das cenas o trabalho da dupla Olivier Nakache e Éric Toledano, The Upside (Novos Amigos Improváveis) quando não é mais do mesmo acaba por resultar pior.

Não, não havia necessidade de uma nova versão.


Jorge Pereira

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