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«C’est ça l’amour» por Jorge Pereira

Delicioso, verdadeiramente emotivo e extremamente balanceado, o primeiro filme a solo de Claire Burger (Party Girl), C’est ça l’amour, é um estudo absorvente do estado de espírito de uma família após a separação de um casal, viajando ainda por ideias consagradas por Joseph Beuys, de que em nós existe um artista e que a arte imerge na vida social e pessoal.

Focando-se na personagem de Mario (um Boulie Lanners brilhante), Burger retrata um homem desolado, em terra de ninguém espiritualmente, que não encontra paixão ou sentido para a sua vida após a separação da sua esposa (Cecile Remy-Boutang). Este funcionário público (à beira de um ataque de nervos) tem agora de educar as suas duas filhas – Niki (Sarah Henochsberg) de 17 anos prestes a sair do ninho, e Frida (Justine Lacroix), mais jovem, apaixonada por uma colega de escola – e encontra numa performance teatral (Atlas de Ana Borralho e João Galante) uma forma de estar mais próximo da esposa, acabando no processo por se encontrar nessa encenação e aperceber-se das suas ambições e limites, desejos e castrações.

É um filme belíssimo de uma família “fisicamente” a desmoronar-se, mas que encontra uma união subliminar para além da proximidade da vivência. Há uma sequência fabulosa, em que um Mario sob os efeitos de MDMA se derrete e expõe emocionalmente, rodeado pelos seus. Igualmente em destaque, está o processo de crescimento de Frida, uma adolescente em permanente conflito com o pa e a passar por experiências e desilusões semelhantes a ele.

E se aparenta que Burger não se decide bem que rumo prefere seguir na sua pequena história, é porque os próprios visados também eles andam à deriva, à procura de um porto de estabilidade que lhes traga a felicidade há muito perdida. 


Jorge Pereira