Quinta-feira, 25 Abril

«The Boy Who Harnessed the Wind» (O Rapaz Que Prendeu o Vento) por Jorge Pereira

A história verídica de um rapaz do Malawi – William Kakwamba – que de forma a escapar da pobreza e fome mete mãos à obra e constrói, com muito poucos recursos, um moinho de vento que apoiará as culturas agrícolas da sua família, já tinha chegado aos cinemas em 2014 através de William and The Windmill, documentário de Ben Nabors que conquistou o Grande Prémio no Festival South by Southwest ou, SXSW, como é mais conhecido.

Baseado no livro homónimo escrito por Kakwamba – o rapaz que se transformou num engenheiro e que mais tarde deu palestras de como superar os obstáculos da vida -, a estreia na realização de Chiwetel Ejiofor é competente, mas nunca consegue sair das amarras de um filme “feel good” encorajador e previsível sempre num mesmo tom tíbio incapaz de trespassar um verdadeiro suspense sobre o desenrolar dos eventos dramáticos.

É certo que há muita paixão na história que Ejiofor apresenta, e que o belissimo trabalho da fotografia de Dick Pope e da montagem de Valerio Bonelli trazem até nós uma África que se vê, sente e até cheira; onde a aridez, secura e posteriormente a calamidade alimentar fomentada pelas cheias são construídas num registo muito sensorial. Mas o pulso monótono do realizador revela sempre pouco arrojo, preferindo uma forma modesta, explicativa e até didática “by the book” sobre os problemas naturais e políticos da época (e os seus reflexos nas pessoas), que verdadeiramente ocupar-se em retirar esta história de superação da esfera dos clichés e dos lugares comuns dos filmes do mesmo género.

E embora exista uma boa prestação dos atores, com destaque para a imponente Aissa Maiga (a Agnes, mãe do rapaz), The Boy Who Harnessed the Wind quase nunca sai da verdadeira mediania, o que o transforma num objeto interessante de consumo fácil, nunca manipulador, mas que na verdade, e enquanto Cinema, não acrescenta nada ao livro que adapta.


Jorge Pereira

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