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«A Noite Amarela» por Fernando Vasquez

Apesar da inquestionável presença de peso do cinema nacional nesta 49° edição do Festival Internacional de Roterdão, o cinema português não tem o monopólio dos filmes na nossa língua por estas bandas, já que como habitual o Brasil marca o passo com uma lista anda mais extensa e completa. É neste contexto que A Noite Amarela, do estreante Ramon Porto Mota, se destaca como um “slasher espiritual” eficiente e inesquecível, mesmo que nem sempre pelas melhores razões.

A primeira longa do jovem cineasta nordestino conta-nos a história de um grupo de amigos recém licenciados do ensino secundário que visita uma ilha para celebrar a transição com o costumeiro deboche bem regado e fumado. A chegada do grupo revela-se um autêntico anticlímax, já que a boleia prometida nunca chega e, pior ainda para este grupo de millenials, a rede móvel aparenta estar completamente inacessível. Isolados e desprotegidos numa ilha que é tudo menos o paraíso que esperavam, o grupo é rapidamente posto à prova quando após uma serie de visões perturbantes uma das raparigas desaparece misteriosamente.

Embora seja fiel a muitos dos clichés e regras do género do terror, A Noite Amarela nunca se contenta por ficar refém deste traços estilísticos até certo ponto obrigatórios, destacando-se com vários momentos de comédia e uma visão da experiencia teen no Estado de Paraíba que raramente chega a este lado do Atlântico. Neste capitulo, o filme ultrapassa-se de forma surpreendentemente desalinhada e descoordenada, e da melhor maneira possível, acima de tudo com uma cena marcante em que as raparigas do grupo transformam a experiencia nocturna nordestina num épico punk.

É inquestionável que o filme peca por um trabalho de som e edição deficiente que não lhe permite fluir convenientemente, problema que se estende aos atores, vítimas de uma série de diálogos demasiadamente calculados que asfixiam a naturalidade desejada. Seria injusto, no entanto, não referir que são os mesmo atores, aliados ao ambiente misterioso que Mota insiste em imprimir, que oferecem a esta experiência uma enorme dose de charme que ultrapassa qualquer defeito, tornando esta A Noite Amarela num filme que com a direção, oportunidade e sorte acertada poderá ainda se vir a tornar numa inesperada obra de culto.